O escritor Salim Miguel foi o convidado da 39ª edição do Círculo de Leitura de Florianópolis, a última de 2008, realizada na Livraria Saraiva do Shopping Iguatemi. Aos 84 anos, falou, claro, de leituras, do que está lendo agora, dos autores que admira e da fantástica convivência com os livros ao longo da vida. Nascido no Líbano, ele chegou ao Brasil aos três anos e, após morar em São Pedro de Alcântara e Antônio Carlos, em Santa Catarina, sua família fixou residência em Biguaçu, onde se estabeleceu com um pequeno comércio.
Desde cedo, Salim lia tudo o que lhe caía nas mãos, dos folhetins de Michael Zevaco a Eça de Queiroz, passando por Arthur Schopenhauer (As dores do mundo) e Machado de Assis. Na venda do pai, conheceu figuras que mais tarde viraram personagens de seus romances, e na livraria de João Mendes, poeta cego de Biguaçu, passava horas lendo em voz alta para manter o livreiro ligado ao mundo da literatura.
Círculo de Leitura: divulgação do livro
De lá para cá, a vida foi uma sucessão de eventos que acabaram por tornar Salim Miguel o decano das letras catarinenses. Ele foi um dos líderes do movimento conhecido como Grupo Sul, que agitou a vida cultural de Florianópolis de 1947 e 1958. Entre 1957 e 1958, ajudou a escrever o argumento e o roteiro do primeiro longa-metragem catarinense, O preço da ilusão. Em 1964, foi preso (“para averiguações”) pelos militares e retido no quartel da Polícia Militar por 48 dias. Libertado, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na Agência Nacional, nas revistas Fatos e Fotos e Tendências e na adaptação de livros para roteiros de cinema (casos de A cartomante, de Machado, e Fogo morto, de José Lins do Rego), ambos com Eglê Malheiros e Marcos Farias.
Ainda no Rio, Salim editou, ao lado de Eglê, Cícero Sandroni, Fausto Cunha e Laura Sandroni, a revista Ficções, que se tornou referência no jornalismo literário brasileiro. De volta a Santa Catarina, em 1980, ajudou a organizar, para o governo do Estado, o Prêmio Nacional Cruz e Souza, o mais importante do País à época. De 1983 a 1991, dirigiu a Editora da UFSC, e em 1996 assumiu a superintendência da Fundação Franklin Cascaes, onde lutou para criar uma política cultural no município de Florianópolis.
Durante todo esse período, Salim Miguel intercalou uma atividade intensa como animador cultural e escritor. Estreou com Velhice e outros contos, em 1951, e até o próximo livro, o romance Jornada com Rupert, foram mais 23 títulos. Um deles, Nur na escuridão, lançado originalmente pela Topbooks, do Rio de Janeiro, teve a quinta edição revista e lançada há pouco pela Record, com distribuição nacional.
No momento, Salim está lendo Almanaque Machado de Assis, de Luiz Antônio Aguiar, e o Dicionário de Machado de Assis, de Ubiratan Machado, edição da Academia Brasileira de Letras que reúne mais de 2 mil verbetes, quase 500 fotos, alguns episódios inéditos e itens não assinalados na bibliografia do bruxo carioca. Há pouco tempo, ele também leu Os irmãos Karamabloch, de Arnaldo Bloch, sobre a trajetória da família Bloch (Editora Bloch, revista Manchete e TV Manchete).
O Círculo de Leitura é um projeto que permite ao convidado e aos presentes discutirem informalmente sobre os livros que estejam lendo, as leituras do passado e as influências de outros autores sobre o seu trabalho. Escritores e jornalistas como Oldemar Olsen Jr., Fábio Bruggemann, Inês Mafra, Mário Pereira, Maicon Tenfen, Cleber Teixeira, Dennis Radünz, Rubens da Cunha, Renato Tapado, Raimundo Caruso, Nei Duclós, Mário Prata e Zahide Muzart foram alguns dos participantes das etapas anteriores do projeto.