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Florianópolis, 22 novembro 2024

Projeto amplia monitoramento do peixe mero no Sul do país

Meio ambienteProjeto amplia monitoramento do peixe mero no Sul do país
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Quatro novos exemplares foram identificados em Santa Catarina e cinco no Paraná neste verão pelo Projeto Meros do Brasil; pesquisa com telemetria acústica apoia na conservação do peixe em risco de extinção 

O Projeto Meros Brasil, que nasceu em Santa Catarina, amplia o monitoramento do comportamento do peixe mero, espécie em risco de extinção no Brasil e no mundo, sendo classificado no país como Criticamente em Perigo. Neste verão, mais quatro meros foram identificados no litoral catarinense e cinco no Paraná, totalizando 33 exemplares monitorados no Sul do país. A identificação, por meio do implante de tags sônicos nos meros, viabiliza pesquisa com telemetria acústica – tecnologia de medição de dados de forma remota, que acontece desde 2013 no Brasil, com objetivo de conservação dessa espécie. 

“Ter 33 meros monitorados e amostrados de forma não letal é emblemático, afinal a espécie é ameaçada, de grande porte e com características muito particulares em relação ao ciclo de vida. Não é possível saber quantos meros vivem no litoral brasileiro, mas utilizamos o censo nas agregações reprodutivas para gerar estimativas populacionais. Nesta temporada, registramos em um mergulho 36 meros no Norte de Santa Catarina, um número muito próximo dos exemplares já identificados com os tags. Em 2011 eram 50 meros no local, um dos pontos mais importantes de estudos da espécie no Brasil”, explica o Dr. Leonardo Bueno, biólogo, pesquisador do Meros Brasil.

O mero, também conhecido como senhor das pedras, é um peixe marinho da família das garoupas que vive nas águas tropicais e subtropicais do oceano Atlântico, do Senegal a Angola, e dos Estados Unidos a Santa Catarina no Brasil. Ele pode medir mais de 2 metros de comprimento e pesar cerca de 250 quilos, o que lhe garantiu outro apelido: gigante dos mares. Vivem em média 40 anos e levam de 6 a 8 anos para atingir a idade adulta, quando entram na fase reprodutiva. Anualmente, de dezembro a março, os meros se reúnem em cardumes com o único objetivo de reproduzir, formando as chamadas agregações reprodutivas. 

A implantação dos tags nos meros é feita de forma segura e cuidadosa, explica Leonardo Bueno, que é especialista em telemetria para essa espécie: “O mero é mantido em boas condições com o auxílio de uma bomba que circula água salgada por suas brânquias. Além disso, um anestésico natural os mantém levemente sedados, impedindo que sintam dor”.

O Projeto Meros do Brasil é patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

Telemetria como aliada na conservação 

A telemetria, uma técnica high tech para o estudo de peixes e pioneira no país para uma espécie de peixe marinho, tem papel importante no entendimento do comportamento dos meros, o que permite embasar políticas públicas de conservação e fiscalização ambiental. 

“Os dados da pesquisa com telemetria indicam que essa espécie tem fidelidade aos locais de reprodução: alguns permanecem ali durante toda a temporada de agregação reprodutiva e outros já voltaram ao mesmo local por três anos consecutivos. Além disso, constatamos que o mero chega a nadar 80 quilômetros em dois dias para chegar às agregações, o que é surpreendente, porque até então pensava-se que meros eram mais sedentários, lentos ou que não realizavam grandes migrações”, afirma o oceanógrafo e Dr. Áthila Bertoncini, coordenador do Meros Brasil em Santa Catarina, ressaltando que preservar as áreas de reprodução é um fator chave para a conservação da espécie.

Na telemetria acústica, marcadores (tags) sônicos são implantados nos meros, com a finalidade de emitir sinais sonoros que são detectados por receptores instalados em pontos determinados previamente, geralmente em áreas de agregação.

Atualmente, nas regiões Sudeste e Sul, são nove receptores instalados entre o litoral norte de Santa Catarina, passando por alguns pontos do Paraná, chegando até a divisa deste estado com o litoral sul de São Paulo.

Mero e seu papel no equilíbrio ambiental

Os meros cumprem importantes funções ecológicas. A espécie ajuda a manter saudáveis as populações dos ambientes onde vivem; serve de alimento para peixes limpadores e até de moradia para pequenos organismos marinhos que vivem aderidos ao seu corpo.

Esses e outros papéis que os meros desempenham na natureza são super importantes para a manutenção do equilíbrio ambiental que irá garantir os serviços ecossistêmicos dos quais usufruímos e que estão diretamente relacionados com a nossa qualidade de vida e bem estar, como o controle do clima e a provisão de alimentos. 

Ameaça aos meros 

Em risco de extinção no Brasil, o mero é protegido por lei e a captura, o beneficiamento, o transporte e/ou a comercialização da espécie são crimes ambientais. No entanto, segundo  Áthila Bertoncini, as ameaças hoje são a pesca ilegal, a supressão de manguezais – habitats essenciais para que o mero chegue a fase adulta – e a degradação do meio ambiente através da poluição.

As consequências são constatadas em censo realizado na última temporada. “A gente tem poucos indivíduos pequenos nas agregações, ou seja, tem novos indivíduos para reproduzir e está aumentando um pouco a população. Mas é muito pouco ainda. E como a gente sabe, a pesca não para apesar da proibição. Meros continuam sendo mortos ilegalmente”, afirma o pesquisador Leonardo Bueno. 

Projeto Meros do Brasil

O Projeto Meros do Brasil, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, é uma iniciativa socioambiental de conservação que tem como principal objetivo a proteção dos meros e dos ambientes costeiros e marinhos por meio da realização de ações de pesquisa, educação e comunicação.

Surgiu em 2002, a partir de uma demanda da sociedade civil (mergulhadores/pescadores) que começou a observar o desaparecimento dos meros em pontos onde antes eram avistados. Na época, pesquisadores que hoje ainda fazem parte do Projeto Meros do Brasil desenvolviam pesquisas com as garoupas em São Francisco do Sul, Santa Catarina. 

MEROS em NÚMEROS

animais monitorados em pesquisa com telemetria 

Brasil – 33 meros

Santa Catarina – 5

Paraná – 27

Projeto Meros do Brasil em NÚMEROS

informações referentes aos últimos dois anos – 2021-2022

Espécies e/ou ecossistemas protegidos: 30

Área de abrangência do Projeto na costa brasileira: 10.253 metros

Participantes diretos: 17.470 participantes

Pessoas em formação: 1.783 participantes

Profissionais com desenvolvimento de novas práticas: 1.850

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