O impasse sobre a altura da proteção metálica que deve ser instalada nas pontes de acesso à Ilha de Santa Catarina ainda não teve solução. A reunião agendada para a tarde desta sexta-feira (17/04) pelo Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf) com o Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) foi adiada a pedido do presidente do Deinfra, Romualdo França, que alegou dificuldades de agenda. “Tentaremos um novo encontro para discutir o assunto e buscar um consenso”, disse o Secretário do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano de Florianópolis, José Carlos Rauen.
O impasse entre governo do Estado e prefeitura da Capital começou quando o Deinfra decidiu colocar defensas metálicas, também conhecidas como guard-rails, nas pontes que dão acesso à Ilha de Santa Catarina. Alegando medida de segurança, contratou equipamentos com 1,45m de altura da pista, o que dificulta a visão da ponte Hercílio Luz para quem trafega pelas pontes Colombo Salles e Pedro Ivo Campos. A instalação do material foi embargada pelo Ipuf no dia 17 de fevereiro, com base no Estatuto da Cidade, pois prejudicaria a visibilidade de um patrimônio tombado que é um dos principais símbolos da cidade e do Estado.
Cara e perigosa
O Presidente do Ipuf, Átila Rocha dos Santos, defende que as proteções metálicas não são equipamentos ideais para garantir a segurança e diminuir riscos de acidente. Representam perigo especialmente para os motoqueiros. “No caso de impacto envolvendo moto, a defensa metállica funciona como uma lâmina, podendo decepar membros periféricos ou a cabeça do motoqueiro, como já aconteceu num acidente na Avenida Beira-mar Norte”, diz.
De acordo com o secretário José Carlos Rauen em todos os estudos que foram realizados pelo município não há um único caso de defensa superior a 90cm. Para ele, o modelo mais apropriado para as pontes é o de concreto, também conhecida como New Jersey. Segundo ele, a defensa de concreto segura o veículo, forçando-o a voltar para a pista. É o caso dos elevados do Itacorubi, Capoeiras e CIC. “Nunca houve um acidente nesses locais em que o veículo ultrapassou a mureta”, argumenta.
Outro ponto desfavorável à proteção metálica, reforça Rauen, é a manutenção onerosa, pois a cada batida o material deforma e precisa ser substituído. Além disso, periodicamente é necessário fazer manutenção por causa da deterioriação natural causada pela exposição ao ar livre. “Este material está em desuso tanto por questões estéticas e de segurança, quanto por fatores econômicos” ressalta o secretário.
Preocupação estética
Dois exemplos reforçam os argumentos dos técnicos da prefeitura para manter o parecer contrário às defensas que o Deinfra pretende instalar nas pontes. Recentemente, o Ministério Público Federal já se manifestou contrário à construção de obras no entorno da ponte Hercílio Luz e recomendou limite de altura para edificações no local justamente para que não interfiram na visibilidade daquele patrimônio tombado. Foi o que aconteceu com o prédio da Receita Federal, cuja sede será erguida na avenida beira-mar Norte, área no entorno da ponte Hercílio Luz. Situação que pode ser comparada aos efeitos nocivos que irão causar os guard-rails embargados.
Outra obra que confirma o pensamento dos gestores municipais, José Carlos Rauen e Átila Rocha dos Santos, está na Europa. É o viaduto Millau Viaduc, que liga a cidade espanhola de Barcelona até a francesa Paris. As pistas do viaduto situam-se a 175 metros de altura e alguns pilares centrais atingem 343 metros de altura, maiores até que um dos principais símbolos da França, a Torre Eifel, que tem 300 metros.
A mega-construção, que custou 300 milhões de euros, foi totalmente planejada nos quesitos estéticos e de segurança. Em todo o percurso foram instaladas defensas bastante altas, superiores a 1,45 metros. “Mas os técnicos tiveram a preocupação de instalar todo o material transparente para que as pessoas que utilizam o viaduto possam vislumbrar a paisagem durante a travessia. Isso é saber unir segurança com preservação do patrimônio”, finaliza o presidente do Ipuf.