Há três pontos de impacto sobre estes animais, analisa biólogo.
Um dos pontos mais falados sobre o parecer contrário do Instituto Chico Mendes (ICMBio) à construção do estaleiro OSX em Biguaçu é o impacto que causaria aos golfinhos que habitam a Baía Norte. O biólogo do ICMBio Paulo Flores, que monitora a população desses cetáceos há 20 anos, explica como o grupo de 50 a 60 golfinhos seria afetado com a construção do empreendimento na área. “A proposta do canal é bem no meio da área de ocorrência dos golfinhos”, afirma.
Flores apresenta três pontos que influenciariam a vida dos golfinhos:
1) O canal a 9 metros que seria aberto no local poderia ser uma barreira ecológica, porque é uma profundidade não utilizada pelos golfinhos, que ficam a uma profundidade média de 3,3 metros.
2) Alguns metais pesados e poluentes teriam a concentração aumentada na água e seriam disponibilizados na cadeia alimentar, podendo causar prejuízos para diversas espécies de animais e terminando no golfinho, que ocupa uma posição de topo de cadeia e sofre o processo de bioacumulação.
3) Haveria também um problema indireto, a médio prazo, que seria a alteração no processo de sedimentação natural (areia) que alteraria a profundidade no local.
Segundo Flores, também existe o problema da unicidade, já que a população de golfinhos Sotalia vive isolada na Baía Norte e numa área muito pequena. “É uma população pequena, mas são animais residentes há muito tempo, como 17 anos”, explica.
Sobre o argumento do Grupo EBX de que a dragagem seria feita durante os meses frios, quando os golfinhos migram da Baía Norte, Flores afirma que não resolve a questão. “Não dá para dizer onde eles estarão a cada dia. Apesar de a movimentação ser maior no inverno, eles utilizam essa mesma área”.
O biólogo também rebateu o argumento de que, mesmo que o estaleiro não seja construído no local, os golfinhos estão condenados por serem geneticamente frágeis, já que cruzam entre si. Flores relativiza essa afirmação: “Se aparecer um animal de outra população, com outra característica genética, a cada 100 ou 130 anos, os golfinhos não sofrem problemas com o endocruzamento”, afirma.