Frases e palavras compõem as obras; a coleta aconteceu em mais de 60 encontros entre palhaços e transeuntes no Centro de Florianópolis
Um palhaço quase passarinho com uma malinha, uma nuvem, um tapete vermelho enrolado nas costas e um passarinho no bolso junto a outro palhaço que carrega um violão e um passarinho pousado nele. Durante três dias eles andaram pelo Centro de Florianópolis para aquietar monstros em quem permitiu um encontro com a arte, num primeiro momento, e depois consigo mesmo(a). O resultado da ação dos palhaços Jubi ( Egon Seidler ) e
Boró (Marcio Momesso), no projeto Para aquietar monstros, foi a coleta de prazeres amortecidos, ou seja: aquela experiência com amor tecida que não mais acontece, vira memória e tem sua natureza invertida, fica amortecida. Cada encontro dos palhaços com um transeunte – foram mais de 60 – deu origem a uma frase ou palavra que agora compõem painéis e um outdoor instalados em seis cidades catarinenses, de seis mesorregiões do Estado.
O ator, dançarino e palhaço Egon Seidler, com uma trajetória artística de quase duas décadas, é o idealizador do projeto. Ele parte da percepção de que, em tempos conturbados, todos são invadidos pelo medo e, como defesa, os “monstros” despertam e não os colocamos novamente para dormirem, a empatia é afogada, o confronto toma o lugar do encontro.
Para equilibrar esse movimento do mundo, o projeto, por meio da Palhaçaria (arte que trabalha a serviço do outro), reaviva ‘prazeres’.
“E durante os encontros no Centro da Capital, nos demos conta que estávamos falando de tempo, tempo de carinho, tempo de abraço”, afirma Egon, que iniciou o projeto na semana pré-eleitoral e agora leva os painéis para as ruas após o segundo turno.
Com prazeres amortecidos registrados, foi a hora de conectá-los com o que acontece nas cidades que receberão as obras, o que foi feito a partir de conversa com parceiros que abraçaram a iniciativa. Assim, nasceu a primeira coleção de prazeres amortecidos, tratando sobre “tempos” – o tempo da delicadeza, o tempo presente, o tempo de uma história, entre outros.
Obras estarão em espaços públicos centrais das cidades
Os “poemas palhacísticos-visuais”, de classificação livre, habitarão espaços públicos, centrais e de movimento nas cidades Alfredo Wagner – Grande Florianópolis; Santa Terezinha – Norte; Calmon- Oeste; Cerro Negro – Serra Catarinense; Imaruí – Sul; e Vitor Meireles – Vale do Itajaí. A escolha das cidades foi pautada na descentralização do acesso à arte e cultura.
Cada cidade receberá uma obra da coleção, com um QR Code que dá acesso ao perfil do Instagram – @paraaquietarmonstros, no qual todo o processo do projeto é compartilhado e pelo qual se pode acessar as outras peças da coleção.
Do singular para o coletivo
Os painéis, com imagens para ampliar a leitura sobre o que foi experienciado/registrado, tem como objetivo transbordar o singular para o coletivo.
“A ideia é que a fruição se expanda, alimente as cidades, para que as experiências se tornem lembranças presentes e para que os prazeres ali expostos habitem outros corpos. Entendo a fruição artística como importante ação impulsionadora de experiência afetiva e reflexiva, de transformação social”, afirma Egon.
Para quem tiver a oportunidade de ver a obra presencialmente, a sugestão é se deixe levar pelas impressões, sensações que aflorarem e conexões com a obra.
“Não julgue sua imaginação. Aos poucos, a obra tomará um lugar dentro de você, fazendo uma ponte com o que você já viveu, conheceu ou experimentou”, pontua Egon.
Sobre o projeto
O projeto foi viabilizado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura ∕ Edição 2021 – Artes Populares – Artes Circenses. Conta com o abraço da Traço Cia. de Teatro, da EEB Silva Jardim de Alfredo Wagner, das Secretarias Municipais de Cultura, Educação e Turismo de Calmon, Cerro Negro, Imaruí, Santa Terezinha e Vitor Meireles. Teve o apoio da Casa da Memória – Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes. A realização é da Fundação Catarinense de Cultura, Governo do Estado de Santa Catarina.
Onde encontrar os “poemas palhacísticos-visuais”
Alfredo Wagner – Grande Florianópolis || Escola de Educação Básica Silva Jardim || Rua Anitápolis, 175 – Centro
Para aquietar monstros: a coleção dos prazeres amortecidos – o tempo da delicadeza
Santa Terezinha – Norte || Avenida Bruno Pieczarka – Centro
Para aquietar monstros: a coleção dos prazeres amortecidos – o tempo da presença
Calmon – Oeste || Praça Municipal de Eventos || Rua Vereador Theodósio Pulek – Centro
Para aquietar monstros: a coleção dos prazeres amortecidos – o tempo presente
Cerro Negro – região Serrana || Praça Municipal Zélia Gobetti – Centro
Para aquietar monstros: a coleção dos prazeres amortecidos – o tempo da pausa
Imaruí – Sul || Trapiche do cais – Centro
Para aquietar monstros: a coleção dos prazeres amortecidos – o tempo de um abraço
Vitor Meireles – Vale do Itajaí || Praça dos Pioneiros || Rua Santa Catarina – Centro
Para aquietar monstros: a coleção dos prazeres amortecidos – o tempo de uma história
FICHA TÉCNICA
A percepção e o mergulho (concepção, coordenação e atuação) = Egon Seidler (Jubi)
A companhia e a sonoridade (música e atuação) = Marcio Momesso (Boró)
A provocação palhacística (consultoria em palhaçaria) = Débora de Matos
O cuidado (produção) = Greice Miotello
Os trampolins (objetos e adereços) Ana Pi
A conquista das imagens (registro fotográfico) = Vanessa Soares
A tecitura das imagens (designer) = Paula Albuquerque
A notícia (serviços de informação) = Alecrim Conteúdo