Desde o começo da pandemia, plataforma conecta produtores, doadores e organizações sociais para assegurar o acesso a alimentos frescos e saudáveis
Quando a pandemia do novo coronavírus começou, no começo de 2020, o distanciamento social necessário para diminuir a transmissão do vírus impactou no campo e na economia. Apesar da crise sanitária e econômica, uma iniciativa chamada Orgânico Solidário mobilizou voluntários para conectar agricultores às famílias em situação de insegurança alimentar por meio de doações de pessoas e organizações. Na Grande Florianópolis, o Centro Cultural Escrava Anastácia (CCEA), integrante da Rede IVG (Instituto Padre Vilson Groh), é um dos beneficiados desse projeto.
Jovens de famílias em situação de vulnerabilidade social recebem mensalmente cestas com frutas, legumes e verduras orgânicos. Essas cestas são montadas por uma rede de pessoas que produzem ou adquirem alimentos de agricultores orgânicos e os entregam para uma rede de organizações e projetos sociais parceiros. Por meio de doações, os alimentos são comprados e geram renda para quem produz. Mais do que isso, assegura alimentação saudável para quem enfrenta necessidades básicas, como escassez de comida.
— A falta de acesso à alimentação não é de agora, mas foi agravada com a pandemia. E aí surgiu a ideia de uma campanha de arrecadação de recursos para comprar, com esse dinheiro, alimentos da agricultura — geralmente e preferencialmente familiar — contam os cofundadores da plataforma Orgânico Solidário, Bianca Oliveira e David Frenkel.
A outra ponta foi amarrada com organizações sociais que já atuam junto às comunidades que mais precisam. Antes de Florianópolis, o projeto começou no Rio de Janeiro, onde semanalmente a plataforma viabiliza alimentos frescos para as famílias indicadas por programas sociais. Em Santa Catarina, o Orgânico Solidário se uniu à Rede IVG e viabiliza alimentos oriundos de produtores que fazem parte do projeto Acolhida na Colônia para jovens e suas famílias que são atendidos pelas instituições que integram a rede.
Como contribuir e como os alimentos chegam a quem precisa
O Orgânico Solidário funciona como uma plataforma online na qual pessoas ou empresas podem fazer doações a partir de R$ 5. O dinheiro arrecadado gera renda para os agricultores e garante a segurança alimentar de várias famílias. Para compor uma cesta de 6 a 7 quilos, com variedade de 12 a 15 alimentos, o custo é R$ 50, ou seja, a cada R$ 50 arrecadados, uma família recebe uma cesta variada e nutritiva.
— Fizemos questão de que não fosse uma ação pontual e, sim, recorrente. Uma forma de democratizar os alimentos frescos e orgânicos e impactar positivamente na segurança e hábitos alimentares das pessoas beneficiadas — ressaltam os cofundadores Bianca e David.
Quando os vegetais são entregues pelos produtores, a montagem das cestas é feita por voluntários na sede do programa de extensão PET Educampo, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na Capital. A distribuição das cestas para as famílias é feita pelas instituições parceiras. No Centro Cultural Escrava Anastácia, elas são entregues para os jovens que participam de programas como o Rito de Passagem ou Jovem Aprendiz e cujas famílias enfrentam mais dificuldades em relação à alimentação básica. Em 2020, foram distribuídas 50 cestas de orgânicos por mês e, neste ano, a solidariedade das pessoas conseguiu garantir, em todas as primeiras quintas-feiras de cada mês, 100 cestas!
Além dos alimentos, as famílias também recebem receitas e dicas de aproveitamento total — casca, semente, folhas, caules — elaboradas por nutricionistas parceiros.
Agora o trabalho é de sensibilização para que empresas e pessoas que tenham condições de contribuir financeiramente possam fazê-lo de forma perene, assegurando, dessa forma, a segurança alimentar de quem precisa e, ao mesmo, garantindo renda para quem vive no campo.
Para conhecer o contribuir com o Orgânico Solidário e o Centro Cultural Escrava Anastácia: https://organicosolidario.org/doacao/CCEA
CCEA: acolhimento, educação e justiça social e racial
O Centro Cultural Escrava Anastácia tem suas raízes no Monte Serrat, no Maciço do Morro da Cruz, Centro de Florianópolis. Nasceu do movimento comunitário com o propósito de enfrentamento pacífico da criminalidade, em meados dos anos 1990. Desenvolve um trabalho voltado para a educação, fortalecimento de vínculos, inserção social e laboral, assistência social, cultural e esportiva e acolhimento institucional, principalmente de jovens de bairros socialmente vulneráveis da Grande Florianópolis. Integra a Rede IVG (Instituto Padre Vilson Groh).
Além de programas como o Rito de Passagem e o Jovem Aprendiz, desenvolvidos na sede da instituição, no Bairro Balneário, região continental de Florianópolis, mantém a Casa de Acolhimento Darcy Vitória de Brito, que oferece o serviço de acolhimento institucional para crianças e adolescentes.
Em 2021, mesmo com a pandemia, o CCEA atendeu diretamente 300 adolescentes e jovens de forma presencial. Também correalizou o Programa Pode Crer Caixa Tem, do Instituto Vilson Groh, com mais de 200 jovens. Vale pontuar que o programa Rito de Passagem está sendo apoiado pelo Criança Esperança e priorizou o ingresso de jovens negros durante todo o processo. Esse programa prepara adolescentes para o ingresso no Jovem Aprendiz e nas outras formas de inserção laboral e educacional.