Técnicos também permanecem atentos ao deslocamento da nuvem de gafanhotos pelo território argentino
A Epagri permanece atenta ao deslocamento da nuvem de gafanhotos pelo território argentino, mesmo diante da possibilidade remota de a praga chegar a Santa Catarina. As condições meteorológicas climáticas previstas para o Estado indicam a chegada de uma frente fria acompanhada de queda de temperatura, o que não favoreceria a chegada dos insetos ao território catarinense. Mesmo assim, pesquisadores da Epagri aprofundam estudos para conhecer melhor esse fenômeno natural.
Leandro Delalibera Geremias, entomólogo da Estação Experimental da Epagri em Ituporanga, conta que desde a década de 1950 tem sido observada uma diminuição da incidência desta praga na Argentina. No Brasil, foram registrados surtos de gafanhotos de outras espécies em diferentes regiões até o início de 1990, contudo na maioria das vezes de forma esporádica e sem atingir Santa Catarina. A partir de 2015, pequenas infestações foram observadas no território argentino. Isso justifica a limitação de conhecimento existente sobre esse fenômeno em território catarinense. Para contornar esta questão, a equipe de entomologistas da Epagri está buscando conhecimento junto a estudiosos do Brasil e do exterior.
Gafanhotos é o nome popular de um grupo de insetos que pertencem a ordem Orthoptera, onde se incluem também grilos, esperanças e paquinhas. Esta ordem possui mais de 30 mil espécies conhecidas, explica Leandro. A espécie que está na Argentina, de nome científico Schistocerca cancellata, normalmente apresenta o hábito solitário, mas sob algumas condições favoráveis pode adotar o hábito migratório, se agregando e formando “nuvens”. Embora não sejam conclusivos, alguns estudos indicam que quando a espécie encontra condições de clima e de alimentação favoráveis ao seu desenvolvimento, pode gerar até três gerações em um ano, uma a mais do que normalmente aconteceria em condições normais.
“Com o aumento generalizado do número de indivíduos, há a necessidade de buscar novos nichos ecológicos para alimentação e daí ocorre a nuvem migratória”, explica o entomólogo. Trata-se de uma praga que pode se alimentar de cerca de 400 diferentes espécies vegetais, tanto as cultivadas pelo homem, especialmente gramíneas, como espécies vegetais silvestres, onde também pode se abrigar.
O Schistocerca cancellata tem ocorrência descrita naturalmente no Brasil e inclusive em Santa Catarina. Entretanto, é no Noroeste da Argentina que este inseto encontra as condições ideais para a sua proliferação. Segundo Leandro, o primeiro relato de uma nuvem de gafanhotos na Argentina ocorreu no ano de 1538, causando prejuízos principalmente na cultura de mandioca. “Não é um fenômeno novo, é cíclico, com um intervalo de ocorrência muito distante”, descreve o pesquisador da Epagri.
Leandro pede tranquilidade à população e diz que a recomendação da Epagri no momento é a vigilância constante e busca de conhecimento para evitar pânico desnecessário. No caso de avistamento da praga, é importante que a pessoa avise imediatamente as autoridades agrícolas locais, podendo ser um escritório da Epagri, da Cidasc ou a secretaria municipal de agricultura.
Monitoramento
Ao mesmo tempo em que aprofunda conhecimentos sobre a praga, a Epagri acompanha o deslocamento da nuvem na Argentina. Kleber Trabaquini, pesquisador do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Epagri/Ciram), diz que a evolução da praga no país vizinho vem sendo registrada pelo Serviço Nacional de Sanidad y Calidad Agroalimentaria (Senasa), órgão ligado aquele governo federal. É a partir destas instituição que as autoridades catarinenses vêm se atualizando sobre o tema.
O Senasa criou um banco de dados que está sendo alimentado por avistamentos in loco, ou seja, a pessoa informa ao órgão onde viu a nuvem e aquela informação é inserida em um mapa, com as devidas coordenadas geográficas. Isso vem sendo feito desde 1º de maio, quando se iniciaram os registros.
Kleber explica que este acompanhamento é importante para que a Epagri possa informar às autoridades quais variáveis ambientais estão influenciando no deslocamento da nuvem, relacionando a trajetória dos insetos com fatores como vento, pressão e umidade do ar e relevo. A velocidade média de deslocamento da nuvem é de 100Km por dia, mas isso pode variar, influenciado principalmente pelo vento.
Segundo o pesquisador da Epagri/Ciram, tecnologias de mapeamento remoto, como radares e imagens de satélite, por exemplo, ainda não conseguiram superar a eficácia dos informes por avistamentos. Em seu estudo, descobriu que em Las Vegas, nos Estados Unidos, uma nuvem de gafanhotos já foi registrada por radar. Na Europa há registro da praga por imagem de satélite. “Mas isso depende muito da densidade da nuvem”, descreve Kleber, destacando que esse tipo de registro ainda não foi possível na Argentina.