Depois de um vídeo disponibilizado nas redes sociais, chegou a vez do lançamento do livro “Pró-Música de Florianópolis e Darcy Brasiliano dos Santos – Construção coletiva de sentidos”, escrito pela jornalista Néri Pedroso. Tanto o documentário quanto a obra impressa falam da trajetória do gestor cultural que colocou a capital catarinense no roteiro das grandes orquestras, instrumentistas, conjuntos de música erudita e companhias de dança do Brasil e do exterior a partir da década de 1970. Virtual, o lançamento está marcado para o dia 9 de dezembro, às 19h, com início da distribuição de cota gratuita. Os interessados poderão solicitar o volume a partir desse dia pelo site www.redemarketingcultural.com.br, da empresa executora do projeto.
A Rede Marketing Cultural divide a realização do projeto com o Ministério do Turismo, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Pronac 163981), com apoio da Eletrobras/CGT Eletrosul e o patrocínio da Cassol Centerlar e do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). O lançamento marca os oito anos de criação da Rede, empresa de gestão cultural com projetos nas áreas das artes visuais, música, fotografia, patrimônio e edição de livros.
Bilíngue (português e inglês), a obra recém-impressa destaca aspectos da vida pessoal de Darcy, 96 anos, nascido na Vargem Grande, norte da Ilha de Santa Catarina, e o trabalho que realizou como presidente da Associação Pró-Música, criada em 1973 e que ele administrou até 2014. Durante quatro décadas, Florianópolis foi referência em grandes espetáculos e disputou com São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre a primazia de companhias estrangeiras que vinham ao Brasil, além de constar da agenda dos principais músicos, intérpretes, orquestras e conjuntos de câmara do país.
Em mais de quatro décadas, a Pró-Música trouxe artistas do porte de Magdalena Tagliafero, Arthur Moreira Lima, Aldo Baldin, Edino Krieger, Sebastião Tapajós, Roberto de Regina, Ana Botafogo, Eudóxia de Barros, Antonio Meneses, Nelson Freire, Jerzy Milewski, Arnaldo Cohen, Turíbio Santos, Paulo Moura, Altamiro Carrilho e Cecília Kersche, além do Ballet Stagium, que todos os anos fazia uma temporada na cidade.
Foi nesse período luminoso que desceram na cidade a Orquestra de Câmara do Kremlin (Rússia), a Orquestra de Câmara de Budapeste (Hungria), o Quarteto de Cordas da Filadelfia (Estados Unidos), o Mozart Quartet (Áustria), o Solisti Aquilani (Itália), o Quinteto de Sopros de Gothenburg (Suécia), a Orquestra de Câmara de Varsóvia (Polônia), o Sexteto de Cordas de Zurich (Suíça), os Meninos Cantores de Windsbach (Alemanha), a Orquestra Sinfônica de Cannes (França), além de centenas de outros cantores, orquestras e grupos de sopro e cordas de todo o mundo.
Além de proporcionar a milhares de catarinenses a oportunidade de assistir a grandes concertos e espetáculos de dança e ópera, a Pró-Música ajudou a formar plateias, abriu mercado para jovens instrumentistas e transformou Florianópolis num destino promissor para músicos de outros estados que hoje atuam na cidade como artistas e professores de música. A jornalista Néri Pedroso diz que em sua pesquisa encontrou muitas preciosidades e material que “daria para fazer vários livros”. A Pró-Música chegou a ter 1.500 associados, que pagavam uma mensalidade e tinham o direito de assistir a todos os espetáculos da programação ao longo do ano. Darcy Brasiliano dos Santos também ajudou a criar a Associação Coral de Florianópolis, em 1960.
Foi a partir do surgimento da Pró-Música que nasceram o Festival Nacional de Canto Aldo Baldin, o Ciclo de Intérpretes Catarinenses, a Série Vesperal, o projeto Clássicos na Catedral e outros eventos que sempre tiveram lotação completa, independente do local onde eram realizados. Néri Pedroso ressalta o papel da soprano Rute Ferreira Gebler e da maestrina Mércia Mafra Ferreira, além do músico e empresário Ademar José Cassol, no fortalecimento da instituição, que hoje é presidida pela pianista Neyde Coelho.
A cidade das óperas
A programação da Pró-Música sempre contemplou todos os gêneros, do popular ao erudito, do chorinho ao jazz, do tango à ópera. Florianópolis se tornou palco do canto lírico com a série de óperas que a instituição produziu – algo impensável na cidade, que nunca teve tradição nesse gênero artístico. Entre 2000 e 2009, foram nove montagens, entre elas “La Traviata”, “Madame Butterfly”, “Carmen”, “Cavalleria Rusticana”, “O Elixir do Amor” e “O Barbeiro de Sevilha”.
Hoje aposentado como funcionário do Banco do Brasil, Darcy Brasiliano dos Santos dedicou boa parte da vida à Pró-Música de Florianópolis, cuidando de todos os detalhes de cada evento. Ele organizava as reuniões, montava os programas, ia às gráficas, contatava com os músicos e orquestras, redigia e assinava contratos, produzia releases, buscava convidados no aeroporto, acompanhava os ensaios, preparava os camarins, visitava autoridades e redações de jornal, garimpava novos associados, escrevia artigos, arquivava materiais, cantava no coral. E, como católico praticante, ia à igreja todas as semanas.
Ainda de acordo com a autora do livro, Darcy “superou barreiras estéticas, culturais e financeiras, e também a falta de espaços físicos e a lógica comercial da produção artística” na cidade. Ela o define como “uma pessoa extraordinária, um homem contemporâneo, de cabeça aberta, cujos olhos ainda brilham quando fala de música”.
A autora do livro
Néri Pedroso é formada em comunicação social/jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria (RS), vive e atua em Florianópolis. Diretora da NProduções, tem vasta experiência em jornalismo cultural e na implantação de projetos jornalísticos. Editou o caderno Anexo, do jornal “A Notícia” (1989/1993 e 2000/2005), criou, implantou e editou o caderno Plural no “Notícias do Dia” (2008- 2011) e é autora dos livros “Hassis” (Tempo Editorial) e “Coletiva de Artistas de Joinville: Construção Mínima de Memória” (Fundação Cultural de Joinville) e do catálogo/livro “Superlativa Marina” (Instituto Juarez Machado).
Assinou artigos em livros, como “Tubo de Ensaio – Composição [Interseções + Intervenções]”, “Construtores das Artes Visuais – Cinco Séculos de Arte em Santa Catarina Vol. 1” (Tempo Editorial) e “Percurso do Círculo – Schwanke Séries, Múltiplos e Reflexões” (Contraponto). Ao lado de Maria Regina Schwanke Schroeder e Rosângela Cherem, em 2017, organizou o livro “'Interlocuções Possíveis: Kosuth e Schwanke'” (Instituto Schwanke).
Integra a Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), a Academia Catarinense de Artes e Letras (Acla) e, como sócia-fundadora, faz parte da diretoria do Museu de Arte Contemporânea Luiz Henrique Schwanke/Instituto Schwanke, em Joinville. Atualmente atua como vice-presidente da instituição.