A Cia Club Noir, de São Paulo, apresenta sexta, sábado e domingo, no Teatro da UFSC, a peça Comunicação a uma Academia, de Franz Kafka. Na montagem, um macaco metamorfoseado e vigiado por um guarda armado, faz seu relato sobre o processo para aprender a se comportar como um humano. Aprendeu a apertar mãos, a fumar, a beber até se embebedar, a falar e, por fim, a pensar como um homem.
Com direção e tradução de Roberto Alvim, o texto é interpretado por Juliana Galdino no papel do macaco, e José Geraldo Jr. no papel do guarda. O projeto foi contemplado pelo Programa BR de Cultura 2009/2010 para circular por cinco capitais do Brasil: Goiânia, Porto Alegre, Curitiba, Vitória e Florianópolis.
A decisão do macaco em virar um humano ocorreu depois que ele foi baleado, preso e cruelmente torturado pelos homens. Tornar-se um igual, imitando convenções, poderia ser a única saída. O macaco se limita a relatar. Não se lamenta, mas também não se orgulha. Fala como se prestasse contas, embora não admita ser julgado por homem algum.
Por meio do discurso, pensa e conforma gradualmente sua visão de mundo. Reflete e compara sua condição animalesca anterior com a atual humanidade conquistada – hesita, se contradiz, torna-se agressivo, sarcástico, niilista, arrogante, frágil, perplexo.
Tornou-se outra coisa, precisava tornar-se como os que o espreitavam do lado de fora da jaula. Agora não está mais preso, mas percebe que tampouco está livre. Afinal, tornou-se um homem, e aos homens – ele chega à conclusão – não cabe a liberdade.
A encenação é minimalista. O palco, praticamente vazio de objetos. O trabalho é pautado na imobilidade dos atores, em movimentos mínimos, numa luz fria e crepuscular e no emprego musical da fala, alternando ritmos, sensações e sobreposições.
O diretor Roberto Alvim, que assina também cenário, iluminação, figurinos e trilha sonora, criou um ambiente asséptico, claustrofóbico. As paredes do cenário são forradas por placas de mármore verde-musgo, com uma grande cabeça de cervo empalhada no alto. Nesse lugar, separado da platéia por uma corda de isolamento, o macaco fala e sua palestra ocorre sob a tensão constante oriunda da presença vigilante de um guarda armado com um rifle.
A companhia
A Club Noir foi criada em 2006 por Roberto Alvim e Juliana Galdino. A companhia produziu seis espetáculos: Anátema (monólogo de Roberto Alvim com Juliana Galdino); Homem sem Rumo, do norueguês Arne Lygre, indicado ao Prêmio SHELL (SP) de Melhor Direção e Melhor Iluminação (ambas as indicações para Roberto Alvim), e para o Prêmio Bravo! de Melhor Espetáculo Teatral do ano; O Quarto, primeira peça do dramaturgo inglês Harold Pinter, com tradução e direção de Roberto Alvim, indicado ao Prêmio de Melhor Espetáculo do Ano pela Cooperativa Paulista de Teatro, e vencedor do Prêmio Bravo! de Melhor Espetáculo Teatral do ano; Comunicação a uma Academia, indicado ao Prêmio SHELL (SP) de Melhor Atriz para Juliana Galdino; A Terrivel Voz de Satã, de Gregory Motton e H.A.M.L.E.T. versão do clássico escrita por Roberto Alvim com direção de Juliana Galdino.
O quê: Comunicação a uma Academia, texto de Franz Kafka, com a Cia Club Noir.
Quando: hoje (1) e amanhã (2), às 21h, e domingo (3), às 20h.
Onde: Teatro da UFSC. Praça Santos Dumont, Campus da UFSC, Trindade.
Quanto: Ingressos a R$ 10,00 e R$ 5,00.