Construído no século 18, o Forte Santa Bárbara – sede da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC) – vai ser reformado pela Prefeitura da Capital. A ordem de serviço para início das obras nas instalações internas e externas do imóvel foi entregue pelo prefeito Dário Berger e o superintendente da FCFFC, Rodolfo Joaquim Pinto da Luz, nesta segunda-feira (8/06). “Esse é um patrimônio nobre. Temos que preservá-lo e revitalizá-lo para a cidade”, ressaltou o Chefe do Executivo Municipal.
Os reparos vão abranger a estrutura do telhado, forros e manutenção das esquadrias de madeira de todo o conjunto arquitetônico, que soma 1.500 metros quadrados de área construída. Também será feito o restauro do muro, e a pintura interna e externa da edificação, localizada nas imediações do antigo terminal de ônibus Cidade de Florianópolis, no Centro. Sob a responsabilidade da empresa Construhab Construtora Ltda, a obra está orçada em cerca de R$ 150 mil. Durante a execução das benfeitorias, a FCFFC continuará atendendo no local.
Representando a Capitania dos Portos na solenidade de assinatura da ordem de serviço, o Capitão de Corveta Etevaldo Rodrigues disse que a reforma traz grande alegria à Marinha do Brasil, proprietária do imóvel. “É uma satisfação ver que o município está preocupado com a conservação desse patrimônio, e que está dando a ele um uso nobre para a sociedade”, destacou.
Esta é primeira reforma no Forte Santa Bárbara desde que a edificação foi cedida ao município, em 2000. Intermediada junto ao Comando do 5º Distrito Naval, a cessão do imóvel envolveu como contrapartida a construção da nova sede da Agência de Capitania dos Portos, que até 1998 estava instalada no forte e foi transferida para a região continental.
Restaurado há uma década, sob orientação da 11ª Delegacia Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o prédio abriga atualmente a estrutura administrativa da FCFFC. Também sedia exposições, reuniões e espetáculos, além de servir de base para os ensaios semanais do projeto Orquestra Escola.
Fortaleza integrava sistema de defesa da Ilha
Erguido em meados do século 18 para compor o conjunto defensivo do litoral sul brasileiro, o Forte Santa Bárbara tinha a finalidade de evitar a passagem pelo canal do Estreito e proteger a Vila de Nossa Senhora do Desterro. Apesar da escassez de registros da época, é provável que a edificação tenha sido projetada por volta de 1760 para conter os invasores, caso conseguissem ultrapassar a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição (de Araçatuba), ao sul da Ilha.
Citado por viajantes estrangeiros que estiveram na Ilha, como Jean François de La Pérouse (1797), Krusenstern (1803), e Debret (1822), o Forte Santa Bárbara localizava-se sobre um terrapleno, guarnecido por uma muralha de cerca de 70 centímetros de espessura na parte superior e altura de quase cinco metros. Possuía 12 canhões de ferro e um de bronze.
Construído sobre uma ilhota rochosa, o forte tinha a aparência de um tradicional sobrado luso-brasileiro, feito em alvenaria de pedras de um só pavimento, num único bloco, com cobertura em quatro águas. A edificação ligava-se à Ilha por um passadiço construído sobre arcos de alvenaria, e abrigava os quartéis da tropa, o armazém e a casa da pólvora.
Múltiplas intervenções
Em 1871, o forte encontrava-se em ruínas, e passou por contínuas descaracterizações. O antigo quartel da tropa foi demolido e um galpão de dois pavimentos, para alojamento de colonos, foi acrescentado. O prédio foi usado como hospedaria para doentes em quarentena e hospital militar. Anos depois, foram fechadas as canhoneiras, construído um parapeito na muralha, pavimentado o terrapleno e instaladas floreiras.
Após outra reforma, em 1873, o imóvel sediou o governo provisório dos revolucionários federalistas. Em 1874, foi remodelado para sediar a Capitania dos Portos das Províncias do Rio Grande de São Pedro do Sul e de Santa Catarina, instalada em 1875. Entre 1940 e 41, o prédio foi reformado, sofrendo novas intervenções na década seguinte, com acréscimo de compartimentos.
Nessa época, os primeiros aterros da cidade já envolviam a pequena ilhota, ligando-a definitivamente à Ilha de Santa Catarina. As linhas ecléticas que adornavam as fachadas do forte foram abandonadas no início do século 20, e uma nova reforma deu ao prédio fachada geométrica, típica dos anos 1930, aspectos arquitetônicos que ainda exibe.
Hoje, apesar de descaracterizado, o forte mantém a muralha e os arcos de alvenaria ainda visíveis, mesmo depois do aterramento feito na área da Baía Sul, no início da década de 1970. Em 1984, foi tombado como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Anos mais tarde, em função do aterro que impediu o acesso direto ao mar, a Capitania dos Portos transferiu-se para a área continental. Porém, a mudança para novas instalações somente aconteceu em 1998, período em que o Forte Santa Bárbara foi restaurado e cedido à Prefeitura de Florianópolis, conforme convênio firmado em 2000 entre o município e a Marinha do Brasil.
Foto – Mauro Vaz