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Florianópolis, 25 novembro 2024
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Florianópolis terá programa para preservar a renda de bilro

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As rendeiras de Florianópolis terão um espaço permanente para valorização e preservação da renda de bilro como referência cultural da cidade. Um termo de cooperação para viabilizar a proposta deve ser assinado em março entre o Ministério da Cultura (Minc) e a Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC). A iniciativa vai transformar o Casarão da Lagoa num Centro de Referência da Mulher Rendeira, na Lagoa da Conceição.
A ação faz parte do Programa Nacional de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural (Promoart), que está sendo implantado de forma piloto em 65 municípios do Brasil. Em Santa Catarina, apenas duas cidades foram selecionadas para a primeira etapa: Florianópolis, com a renda de bilro; e Itaiópolis, com os bordados ucranianos e pêssankas de Iracema.

O objetivo do Promoart em Florianópolis é incentivar a preservação da produção artesanal da renda de bilro, investindo em estratégias para evitar que essa tradição cultural desapareça, tornando-a mais conhecida e valorizada por moradores e turistas. Para isso, será realizado um censo de identificação das rendeiras da cidade, e elaborado um inventário de referências culturais da renda de bilro catarinense. Também serão produzidos um documentário e um livro de fotografias sobre esse artesanato, que está presente em quase todas as comunidades do município, em especial na Lagoa da Conceição.

Para abrigar o Centro de Referência da Mulher Rendeira, o Casarão da Lagoa passará por uma reforma, transformando-se num espaço permanente de exposição de variados tipos de renda de bilro produzidos no município, e receberá o nome fantasia de Casarão das Rendeiras. O local contará ainda com uma loja, agregada a um centro museográfico, contendo fotos, vídeos, folhetos e outros tipos de registro da memória desse trabalho artesanal.
O casarão continuará sendo administrado pela Fundação Franklin Cascaes, que também mantém na Lagoa da Conceição a Casa das Máquinas Espaço de Artes para espetáculos, oficinas, cursos e outras atividades culturais. Os dois imóveis, localizados junto à pracinha da comunidade, integram o Centro Cultural Bento Silvério/ FCFFC.

Transmissão de conhecimento

A seleção dos municípios participantes do Promoart foi baseada na importância cultural, alta qualidade do artesanato produzido, além da variedade de tipologias e técnicas envolvidas no processo de elaboração. Entre as 150 opções de artesanato analisadas no país foram escolhidas iniciativas estratégicas para o estabelecimento de uma política nacional para o setor. Os municípios selecionados vão dividir um montante de R$ 1,3 milhão em recursos federais que serão investidos em equipamentos, formação e divulgação.

O programa fornecerá matéria-prima e instrumentos de trabalho para a realização de oficinas com as rendeiras consideradas mestres populares, para garantir o repasse de conhecimento sobre cantorias, formas de fazer o pique, pontos e almofadas, entre outras atividades que contribuam para a preservação da tradição cultural. Estão previstas ainda oficinas para capacitação das artesãs visando à organização e criação de uma cooperativa de rendeiras.
Paralelamente às ações de apoio à produção, comercialização e distribuição, o programa contempla ainda atividades de divulgação e políticas públicas voltadas à preservação da memória do processo cultural e artesanal de produção da renda de bilro. Estão previstas, inclusive, participações de rendeiras catarinenses no Salão do Artista Popular, no Rio de Janeiro.

A rede institucional do Promoart em Florianópolis será coordenada pela Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC), com apoio do Núcleo de Estudos Açorianos (NEA) e Casa dos Açores Ilha de Santa Catarina. Realizado pela Associação Cultural de Amigos do Museu de Folclore Edison Carneiro (Acamufec), por meio de convênio firmado com o Ministério da Cultura (Minc), o Promoart conta com a gestão conceitual e metodológica do Centro Nacional do Folclore e Cultura Popular/Departamento de Patrimônio Imaterial/IPHAN e com parceria institucional do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Renda de bilro

A renda de bilro veio para o Brasil com os portugueses, oriundos especialmente do arquipélago dos Açores. Os primeiros imigrantes (473 pessoas) partiram do porto de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, rumo ao Brasil, em 21 de outubro de 1747, aportando na Ilha de Santa Catarina em 6 de janeiro de 1748 e aqui ficaram. Em homenagem a esses antepassados e suas tradições foi sancionada em Florianópolis a Lei nº 8030/2009, que institui a data de 21 de outubro como Dia Municipal da Rendeira.

Naqueles tempos, os homens passavam longos períodos na atividade da pesca, com redes artesanais, enquanto as mulheres ocupavam o tempo livre tecendo fios em almofadas de bilro, cujas peças produzidas eram vendidas no mercado da cidade ou trocadas por produtos de necessidade básica para reforçar o orçamento familiar. A tradição cultural, passada de geração a geração, originou o ditado popular “onde há rede, há renda”.

Entre as rendas de bilro mais conhecidas, produzidas no município, estão a “Maria Morena” e a “Tramoia”, ou renda de sete pares, que é considerada um produto típico de Santa Catarina, produzida principalmente por artesãs do Ribeirão da Ilha, Santo Antônio de Lisboa e Lagoa da Conceição. Para preservar essa atividade e promover a troca de conhecimento entre as rendeiras, a Fundação Franklin Cascaes mantém um núcleo de oficinas de renda de bilro no Centro Cultural Bento Silvério, na Lagoa da Conceição, desde a década de 1990.