O Clube do Choro de Florianópolis, nesta quinta-feira, às 20h00, no Teatro Álvaro de Carvalho (TAC), realizará uma apresentação comemorativa ao Dia Nacional do Choro – celebrado em 23 de abril, data do aniversário de nascimento de Pixinguinha, que estaria completando 112 anos. O espetáculo é gratuito e os ingressos podem ser retirados na bilheteria do TAC, até às 18h00 do dia do show.
Com apoio da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC), a iniciativa pretende difundir este gênero musical que promove a identidade do cidadão brasileiro, com sua origem fortemente influenciada pela mistura de raças. Na ocasião, o público terá a oportunidade de conferir o trabalho dos grupos Ginga do Mané, Garapuvu e Quarteto de Clarinetes Nó na Madeira, além dos convidados especiais Rogério Piva, Wagner Segura e Geraldo Vargas.
Referência nacional
Criado oficialmente em dia 13 de março de 2005, o Clube do Choro de Florianópolis reúne instrumentistas e compositores da melhor qualidade. Assim como outras entidades congêneres espalhadas pelo País, tem o objetivo de preservar a memória de nossa cultura musical, fazendo apresentações individuais ou em grupo, educando, divulgando e abrindo espaços para que todos os cidadãos tenham a oportunidade de ouvir a música de qualidade.
Desde sua criação, já fez mais de quarenta apresentações públicas em diversas cidades do Estado e também no exterior. Este esforço vem produzindo uma mudança na cultura local e nas cidades brasileiras. Onde o choro é apresentado, os teatros lotam de gente de todas as idades. Vários grupos estão surgindo e com a participação de diversas gerações. Muitos músicos que se mudaram para a Capital catarinense vêm incorporando o hábito de incluir este gênero em seus repertórios.
Atualmente, estima-se que cerca de sessenta pessoas se dedicam à arte de tocar choro na Ilha de Santa Catarina, tendo maior expressão no centro da cidade, Lagoa da Conceição, Ribeirão da Ilha, Canasvieiras, Pantanal, Ingleses e Estreito. O lançamento do clube local foi para estas pessoas um marco histórico, imbuído com o firme propósito de transformar Florianópolis em uma referência nacional da música instrumental brasileira, trazendo para cá os maiores instrumentistas do País.
Histórico
Surgido nos fins do século XIX o choro é considerado a primeira música urbana tipicamente brasileira. Misturando influências da música europeia com os ritmos africanos, se caracterizou pela improvisação instrumental e pela criatividade do brasileiro: isto cinqüenta anos antes do surgimento do blues, jazz, tango, havaneira e outros gêneros. Seu nome vem da forma melancólica, sentimental e chorosa do brasileiro expressar seus sentimentos.
Muitos expoentes da história da música brasileira são ligados ao choro: Joaquim Antônio Calado (flauta transversa), Chiquinha Gonzaga (piano) e Ernesto Nazareth (piano) o consolidaram como o gênero musical da alma e da identidade nacional. Otávio Dutra (violão e bandolim), Anacleto Medeiros (saxofone), Catulo da Paixão Cearense, Satiro Bilhar (violão), João Pernambuco (violão), Villa Lobos, Pixinguinha, Dilermando Reis, Waldir Azevedo, Jacó do Bandolim, Turíbio Santos, Guinga, Paulinho da Viola e muitos outros músicos e compositores também transitaram com destaque por esta sonoridade.
O choro revive desde os anos de 1970 um momento áureo, com a criação de muitos clubes dedicados a ele, em várias cidades, e com muitas rodas de choro, constatando-se o interesse crescente das novas gerações, acatadas por várias escolas de música.
A prática do choro em Florianópolis teve seu auge entre os anos de 1940 a 1970, quando havia os atuantes regionais de choro: Regional do Avico, Regional do Mandico, Regional do Nilo e o Regional do Zequinha – este último o mais conhecido em Santa Catarina. Esses grupos participavam de espetáculos promovidos pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC), denominados de “Noite do Choro”, onde músicos renomados mostravam a qualidade desta que é a genuína música brasileira.
Pixinguinha
Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha, nasceu no Rio de Janeiro, em 23 de abril de 1897 e faleceu na mesma cidade em 17 de fevereiro de 1973. Flautista, saxofonista, compositor, cantor, arranjador e regente, é considerado um dos maiores compositores da música popular brasileira, tendo contribuído diretamente para que o choro encontrasse uma forma musical definitiva.
Em 1919, Pixinguinha criou o conjunto Oito Batutas, formado por ele próprio na flauta, João Pernambuco e Donga no violão, dentre outros músicos. Fez sucesso entre a elite carioca, tocando maxixes e choros e utilizando instrumentos até então só conhecidos nos subúrbios cariocas.
Quando compôs “Carinhoso” (com João de Barro), entre 1916 e 1917, e “Lamentos” (com Vinícius de Moraes), em 1928, que são considerados alguns dos choros mais famosos, Pixinguinha foi criticado e as músicas consideradas inaceitavelmente influenciadas pelo jazz. Hoje em dia, são obras vistas como avançadas demais para a época. Além disso, “Carinhoso” não fora considerado choro, mas sim uma polca.
Entre outras centenas de composições, destacam-se ainda “Rosa”, “Vou vivendo”, “1 x 0” , “Naquele Tempo”, “Chorei”, “Benguelê”, “Displicente”, “Nostalgia ao Luar”, “Seresteiro” e “Sofres porque Queres”.
No palco
*Grupo Ginga do Mané: leva o nome de um dos choros do mestre Jacob do Bandolim, que também faz referência ao jeito florianopolitano de ser, carinhosamente chamado de “manezinho”. A proposta do Ginga do Mané é o estudo e a divulgação do choro, dando ênfase à produção catarinense. Por este motivo, o grupo possui, além do especial repertório de clássicos do gênero, músicas de qualidade adquiridas por meio de pesquisa histórica com os compositores do Estado. Contato: Bernardo Sens – (48) 8402-4959 ou www.gingadomane.com.br.
*Grupo Garapuvu: formado em 2002, por Luiz Sebastião (violão sete cordas), Rogério Piva (bandolim), Chico Camargo (cavaco), Eduardo Manoel da Costa (pandeiro) e Júlio Córdoba (violão). Com o trabalho voltado à composição, o grupo está desenvolvendo novos arranjos para a gravação de um CD, que será lançado ainda neste ano. Contato: Luiz Sebastião – (48) 99289-838.
*Grupo Quarteto de Clarinetes Nó na Madeira: de repertório eclético, tem como objetivo levar ao conhecimento do público a riqueza do timbre, expressividade e versatilidade do clarinete, por intermédio de obras originais ou adaptadas a sua formação. O quarteto é composto por Odair Altamiro (primeiro clarinete), Ricardo Napoleão (segundo clarinete), Daniel Rodrigues (terceiro clarinete) e Adriano Miranda (clarinete baixo ou clarone) e conta com a participação de Gabriela Flor (pandeiro).
*Rogério Piva: consagrado no choro, é tido como um dos dez maiores solistas brasileiros. Destaca-se também como multi-instrumentista, tocando bandolim, violão e guitarra, ao lado de grandes talentos, entre eles, Yamandu Costa, Mauricio Carrilho, Paulinho da Viola e Proveta. Integra o Grupo Garapuvu. Contato: 9905-7256.
*Wagner Segura: violonista, arranjador, compositor, principal propagador e divulgador do chorinho em Florianópolis, liderou e integrou conjuntos da Capital como o Vibrações e o Nosso Choro. Tem cursos de harmonia aplicada e de Música Popular Brasileira, com mestre Ian Guest (RJ), e prática de choro, com Luiz Otávio Braga (RJ), realizado pela Fundação Cultural de Curitiba. Fundador do Grupo Vibrações, no início da década de 1980, chegou a se apresentar nos projetos Pixinguinha e Pixingão, no Rio de Janeiro, representando Santa Catarina numa seleção feita a nível nacional. Contato: (48) 9916-3602 e www.wagnersegura.com.br.
*Geraldo Vargas: foi músico do Regional do Zequinha, na década de 1980. Formou o Grupo Cordaviva, buscando ir além da reprodução de músicas de compositores consagrados e criando uma linguagem própria e criativa. Apresentou-se com a Orquestra Sinfônica do Estado de Santa Catarina (Ossca). Premiado pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC), gravou seu primeiro CD “Sarau no Ribeirão”. Indicado pela Fundação Nacional de Artes (Funarte) como o representante da música de Santa Catarina para o Projeto Pixinguinha 2004/2005. Realizou em Florianópolis a apresentação “Linguagens do Choro”.
Mais informações sobre o espetáculo e sobre o Clube do Choro de Florianópolis, com o professor João Randolfo Pontes, pelo telefone (48) 9163-3891 ou pelo e-mail pontesjrp@gmail.com.