Falta apenas uma semana para a 22ª edição do Revezamento Volta à Ilha, que esse ano será realizada no dia 8 de abril (sábado). Este ano, o evento contará com a participação de um grupo de oito atletas com deficiência visual: é o time do Projeto Sexto Sentido.
Quem já participou do Revezamento Volta à Ilha sabe de todas as dificuldades que a prova impõe aos corredores. São trechos de trilhas, em dunas, subidas e praias com areia fofa que tornam o percurso um dos mais difíceis do Brasil. No entanto, são justamente essas dificuldades que animam ainda mais os atletas da equipe e que mostram a importância da confiança dos deficientes visuais em seus guias.
“O trecho da Cachoeira do Bom Jesus é um dos mais difíceis em termos de acessibilidade e nele eu preciso confiar muito no meu guia para poder me soltar. A sintonia entre a dupla é fundamental”, explica Marco Laurindo, que corre ao lado de sua esposa há dois anos. “Eu treino com a Rosangela quase todos os dias e no caso do guia ele fala mais do que corre, pois precisa me falar tudo que está ao meu redor, ainda mais em trilha. Por isso esse entrosamento é fundamental”, acrescenta Marco, que perdeu a visão aos 22 anos após um acidente de carro em Florianópolis e encontrou no esporte uma forma de se reabilitar.
Um dos corredores mais experientes do grupo, Marco Laurindo também nada, pedala e faz caiaque, mas é na corrida que ele vem se destacando. E são as provas de trilha suas preferidas. “O Marco é muito bom em trilha, pois ele não tem medo. Ele confia e vai embora. Inclusive estamos nos especializando nesse tipo de prova”, comenta Rosangela Alexandre, guia e esposa do Marco.
Coordenador do projeto há quatro anos, Fábio Luís Charneski, mais conhecido como Popeye, tem uma rotina intensa com os atletas da equipe e conta que a vivência é fundamental para o sucesso do grupo. “Estar com eles é sempre um aprendizado. Estamos nessa desde 2008 e ao longo desse tempo fomos descobrindo e aprendendo com os nossos erros. O desafio está também na logística. Saber onde cada um vai correr, quais as dificuldades de cada trecho. Outra coisa é prover a estrutura, pois são oito atletas, oito guias e mais alguns no apoio. Precisamos de um ônibus, dois carros, hidratação, e com o passar do tempo fomos criando nossa forma de trabalho para melhorar a cada ano”.
E ao longo desses anos são muitas histórias que fazem o esforço e dedicação valer a pena, como no caso do Gilmar Amaral. Atleta de goalball, Gilmar começou a correr em 2009 justamente na Volta à Ilha. “Foi um pedido de um amigo. Faltou um cara no grupo e ele falou que eu tinha que completar. Desde então corri todas e como eu já sabia que tinha intimidade com a corrida a prova me incentivou a não parar mais. Eu já corri Maratona, Meia e outras provas de trilha”, explica. Hoje em dia, Gilmar é um dos atletas mais fortes da equipe e escalado para fazer o Morro do Sertão, trecho que é considerado o mais difícil da prova.
“Eu já fiz o Sertão duas vezes, é um percurso bem difícil devido à distância e altimetria. Tem que estar bem preparado, ainda mais que esse ano eu já terei feito um percurso antes”, explica. Ainda sobre a prova, Gilmar explica a sensação que o trabalho em equipe traz. “A Volta à Ilha é minha prova oficial de abertura do ano. Já fiz algumas corridas, mas o ano não começa enquanto não chega a vez dela. É uma prova maravilhosa com muitos desafios. Quando estou nela até esqueço que não enxergo”, finaliza.
Confira os 17 trechos e o grau de dificuldade do Revezamento Volta à Ilha:
1 – Largada – Avenida Beira-Mar Norte – 10,1 km – Fácil
2 – Rodovia SC-401 (Decathlon) – 9,8 km – Difícil
3 – Santo Antônio de Lisboa (Praça) – 8,0 km – Moderado
4 – Praia da Daniela – 5,1 km – Moderado
5 – Jurerê Antigo (fim da praia) – 5,3 km – Moderado
6 – Cachoeira do Bom Jesus (Rua Otácilio Costa Neto) – 10,4 km – Muito, muito difícil
7 – Praia Brava (Rua Ari Kardec B. Melo) – 5,2 km – Difícil
8 – Praia dos Ingleses (praia, final da R. Dante de Patta) – 4,7 km – Fácil
9 – Praia do Santinho (Posto Guarda-Vidas) – 8,4 km – Muito difícil
10 – Praia do Moçambique – 5,7 km – Muito difícil
11 – Barra da Lagoa (cidade da Barra) – 8,1 km – Muito difícil
12 – Praia da Joaquina (Posto Guarda-Vidas) – 4,9 km – Muito difícil
13 – Praia do Campeche – 7,7 km – Muito difícil
14 – Praia da Armação (perto da Lagoa do Peri) – 9,3 km – Difícil
15 – Praia dos Açores (Morro do Sertão) – 16,7 km – O mais difícil
16 – Tapera (Fazenda da Ressacada) – 15,2 km – Difícil
17 – Via Expressa Sul (Saco dos Limões) – 6,2 km – Fácil
Chegada – Avenida Beira-Mar Norte – Trapiche
Sobre o Revezamento Volta à Ilha:
Idealizada no ano de 1996 pela Eco Floripa, a Volta à Ilha se caracteriza por ser uma prova de revezamento que desafia as equipes a dar uma volta completa correndo na Ilha de Santa Catarina, capital do Estado. A prova é dividida em 17 trechos que desafiam os atletas em 140 km de praias, asfalto, dunas e trilhas. As equipes são formadas por dois, oito ou até doze atletas e competem em 8 categorias: Duplas, Aberta, Aberta Mista, Feminina, Veteranas 40, 50, 60 anos e Veterana mista.
Além da participação no asfalto, dunas, trilhas e praias, o sucesso no Revezamento Volta à Ilha requer também um grande trabalho em equipe. Ainda, a prova conta com o acolhedor público da capital catarinense, que vai aos principais pontos da corrida para incentivar os competidores. Todos esses elementos fazem do Revezamento Volta à Ilha a principal competição do gênero na América Latina.
O evento que começou com dezenas de atletas, hoje recebe aproximadamente 4.000 atletas de 14 estados brasileiros e do Mundo. Em 2015, o Revezamento Volta à Ilha completou seu 20º aniversário, consolidando-se no cenário nacional e internacional e agora, para sua 22ª edição a expectativa e ansiedade dos atletas permanece a mesma. A prova se consagrou pela qualidade e pelo profissionalismo da Eco Floripa, que a cada ano se responsabiliza por realizar um evento cada vez melhor e inesquecível.