Estudos mostram que se envolver em atividades artísticas fortalece os laços sociais e promove bem-estar na era digital
Em um mundo cada vez mais acelerado e repleto de desafios, a busca por formas de aliviar o estresse e promover o bem-estar tem se tornado uma prioridade para muitos. Nesse contexto, a arte e a cultura emergem não apenas como fontes de entretenimento, mas como pilares fundamentais para a saúde mental e a interação social.
Estudos recentes destacam os benefícios da participação em atividades culturais. De acordo com uma pesquisa financiada pelo Departamento de Cultura, Mídia e Esporte do Reino Unido, o envolvimento com as artes está associado à redução de sintomas de depressão, alívio da dor e melhoria na qualidade de vida. Participar de eventos culturais, como peças de teatro, concertos ou exposições de arte, pode diminuir a dependência de medicamentos e promover um senso de pertencimento e propósito.
No Brasil, a necessidade de “escapar” das pressões cotidianas é evidente. Uma pesquisa da McCann Worldgroup revelou que 90% dos brasileiros consideram as distrações uma forma saudável de lidar com o estresse diário. Curiosamente, 42% dos entrevistados afirmaram buscar fugir “da própria mente”, recorrendo frequentemente ao uso prolongado de smartphones como mecanismo de escape. Esse fenômeno tem sido discutido no contexto do chamado “brain rot”, eleito “termo do ano” em 2024, que descreve os efeitos negativos do consumo excessivo de conteúdo digital e a consequente redução da capacidade de atenção, reflexão e engajamento com o mundo real. Assim, promover o envolvimento com atividades culturais presenciais pode ser uma alternativa valiosa para reverter esse quadro e resgatar experiências mais profundas e significativas.
Nesse cenário, eventos culturais desempenham um papel crucial na promoção da integração social. Eles oferecem plataformas para a expressão artística, celebração da diversidade e fortalecimento dos laços comunitários. Participar de atividades culturais permite que as pessoas aprimorem sua criatividade, sensibilidade e habilidades sociais, contribuindo para o desenvolvimento da autoestima e da confiança.
Além disso, a arte tem sido reconhecida como uma ferramenta terapêutica eficaz. Práticas como arteterapia, musicoterapia e biodança foram recentemente incorporadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) como Práticas Integrativas em Saúde (PICS), evidenciando seu valor no tratamento e prevenção de diversas condições de saúde mental.
Segundo o médico de família Thiago Piva, a interação social, a cultura e o lazer se entrelaçam como pilares fundamentais para a saúde mental. “Estudos indicam que relações interpessoais saudáveis reduzem os níveis de cortisol, hormônio do estresse, e promovem a liberação de neurotransmissores como serotonina e ocitocina, fundamentais para o bem-estar emocional. O acesso à cultura — seja por meio da leitura, do teatro ou de visitas a museus — estimula a criatividade, promove reflexão e reforça laços sociais, proporcionando um senso de pertencimento essencial para a construção da identidade”, explica Piva. “O lazer, por sua vez, tem papel essencial na regulação do ciclo circadiano e na redução da sobrecarga mental. Praticar esportes, viajar ou realizar atividades ao ar livre são estratégias eficazes para alcançar equilíbrio e diminuir sintomas de ansiedade e depressão, contribuindo para uma saúde física, mental e emocional”, completa.
Para a psicóloga Isabela Granzotto, a cultura e a arte desempenham um papel fundamental na saúde mental, tanto no sentido de proporcionar socialização quanto na ampliação de repertórios individuais. “O consumo de cultura, seja por meio de espetáculos, exposições, leituras ou qualquer outra forma de expressão artística, possibilita trocas de vivências, experiências, favorecendo a ampliação de repertório e recursos internos. Muitas pessoas enfrentam desafios emocionais de maneira solitária, e a identificação com temas culturais pode oferecer acolhimento e novas formas de expressão. Ainda que não se configurem como grupos terapêuticos, atividades culturais promovem encontros e interações que funcionam como espaços de troca e pertencimento. Essas experiências estimulam a criatividade, o relaxamento, a socialização e a identificação, impactando positivamente a saúde mental”, explica.
Exemplo marcante desse impacto cultural na sociedade é a Maratona Cultural de Florianópolis, um evento que promove durante três dias uma intensa programação artística e cultural. Com apresentações musicais, teatro, exposições, dança e performances ao ar livre, a Maratona Cultural se torna um espaço de celebração e pertencimento, fortalecendo os laços comunitários e proporcionando momentos de lazer e bem-estar para a população. A variedade de atrações permite que pessoas de todas as idades e perfis encontrem uma forma de conexão com a cultura, reforçando os benefícios sociais e emocionais que a arte pode proporcionar.
“A Maratona Cultural de Florianópolis representa mais do que um evento artístico; ela é uma plataforma de transformação social e promoção do bem-estar. Acreditamos que a arte tem o poder de aproximar as pessoas, fortalecer a identidade cultural e contribuir para uma sociedade mais saudável e integrada. Durante três dias, proporcionamos ao público uma experiência única, onde a diversidade cultural e o acesso à arte se tornam ferramentas essenciais para o desenvolvimento humano. Acreditamos que investir na cultura é investir na qualidade de vida, e a Maratona Cultural seguirá firme nesse propósito, promovendo momentos inesquecíveis e fortalecendo os laços sociais em nossa cidade”, destaca a presidente do Instituto Maratona Cultural, Paula Borges.
Então, em tempos de imediatismos e excesso de conectividade, a arte e a cultura transcendem o mero entretenimento, posicionando-se como elementos essenciais para a promoção da saúde e a integração social. Ao participar de atividades culturais, não apenas enriquecemos nossas vidas, mas também fortalecemos o tecido social, construindo comunidades mais saudáveis e coesas. E para quem quer aproveitar a Maratona Cultural para dar início a uma vida mais ao ar livre, com mais socialização e cultura, já pode marcar na agenda: a 11ª edição do evento ocorre entre os dias 21 e 23 de março, em diversos endereços da capital catarinense e com programação 100% gratuita.
