Carlos Roberto de Rolt, secretário municipal de governo e da nova pasta de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico Sustentável de Floripa, fala sobre seus planos para a cidade
Pouca gente sabe, mas Florianópolis (SC) é uma das cidades brasileiras mais avançadas em termos de indústrias de tecnologia. Lá estão empresas desenvolvedoras de games e componentes eletrônicos de sucesso. A importância do setor chamou a atenção da prefeitura e levou à criação, em fevereiro deste ano, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico Sustentável (SCTDES). Como o nome diz, a pasta ficará responsável pela coordenação e incentivos a empreendedores e pela administração dos projetos de governo eletrônico da cidade do sul do País.
Nesta entrevista, o secretário Carlos Roberto de Rolt, que já participava da gestão anterior do prefeito reeleito Dário Berger, fala sobre as funções de sua equipe. Rolt, que participou da implementação do Parque Alfa, espaço que abriga dezenas de empresas de tecnologia em Floripa, afirma estar diante de um desafio. Entre eles, o de mudar a cultura administrativa dos funcionários para começar a utilizar novidades tecnológicas e oferecer serviços de maior qualidade aos cidadãos. “A tarefa mais complicada aqui será a mudança de cultura interna”, garante.
O secretário promete mudanças no portal da cidade e incentivos para a indústria tecnológica da cidade, sempre em parceria com o governo do estado.
Guia das Cidades Digitais – A Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico Sustentável foi criada no início do ano. Por que só agora, haja vista que o prefeito foi reeleito? Que necessidades surgiram para que a secretaria nascesse?
Carlos Roberto de Rolt – Após o primeiro mandato, conheci melhor as forças econômicas do município. Além disso, com base em sugestão minha, pois atuei durante anos na Fundação Certi [instituição de pesquisa e desenvolvimento tecnológico] como superintendente e gerente da incubadora de empresas, o prefeito entendeu que era o momento de a prefeitura ter uma atuação de liderança nos destinos da área de ciência e tecnologia.
Nos primeiros anos de gestão e ainda agora, o foco da prefeitura está voltado para ações sociais e de infraestrutura, nas quais o déficit era muito grande, principalmente na saúde, habitação e educação. Com o início da recuperação destas áreas, precisamos planejar o futuro, e a secretaria precisa garantir o espaço da indústria da tecnologia e demonstrar que esta é a saída para o desenvolvimento econômico sustentável, de forma integrada e articulada com os demais setores da economia.
GCD – Quais projetos a secretaria pretende implementar e qual o tamanho de cada um?
Rolt – Como esta pasta não existia, estamos planejando sua estrutura inicial, mas já podemos antecipar as sete principais diretrizes e ações planejadas para o primeiro ano. Entre elas, o diagnóstico dos telecentros, ampliação da rede de centros de acesso público, capacitação de gestores e integração dos telecentros com os laboratórios de informática das escolas do município.
Também pretendemos promover, de forma integrada com a Secretaria de Educação, ações voltadas para o ensino e a difusão da ciência e tecnologia, bem como a sustentabilidade.
Vamos fornecer informação via TV Digital, desenvolver e patrocinar o boletim eletrônico sobre ciência, tecnologia, inovação e desenvolvimento econômico sustentável. Ainda vamos estudar as competências de nossas instituições científicas para aplicar conhecimento a outras atividades importantes para a cidade, implementar um centro de profissionalização para o Polo Tecnológico de Florianópolis e melhorar o ensino de ciência e tecnologia.
Iremos também elaborar plano de ação do município em relação ao Sapiens Parque [espaço de inovação] e ao Plano Floripa 2030 [projeto de desenvolvimento sustentável], além de apoiar o Condomínio Empresarial Acate, Parque Alfa, Cluster de Games [espaço de desenvolvedores de jogos eletrônicos], Cluster de Eletrônica e outros.
GCD – A página da prefeitura de Florianópolis não oferece muitas informações ao cidadão em comparação com as de outras grandes cidades do País. Uma reformulação está nos planos?
Rolt – Criamos a Diretoria de Governo Eletrônico na Secretaria de Governo, pasta pela qual estou responsável juntamente com a SCTDES. Temos como foco o governo eletrônico. Estamos realizando um diagnóstico sobre o portal corporativo com a intenção de reformulá-lo totalmente no sentido de atualizar o design, tornando mais fácil e didática a navegação.
O portal vai priorizar, na ordem: 1- serviços eletrônicos (requisitados e entregues eletronicamente: nota fiscal eletrônica, viabilidade de construção, etc.); 2- informações sobre serviços presenciais com atendimento online via conferência com atendentes, 3- rastreabilidade de processos; 4- ouvidoria; 5- divulgação do plano de ação de cada pasta com o acompanhamento de indicadores.
Vamos intensificar o governo eletrônico, dar transparência, viabilizar a participação da população nas ações do governo, abrir um contato constante, aproximar os dirigentes públicos e os cidadãos, aumentar a quantidade e qualidade de serviços eletrônicos. A tarefa mais complicada aqui será a mudança de cultura interna.
GCD – O decreto 5589/2008 criou o Sistema Municipal de Tecnologia da Informação e Comunicação, que estaria vinculado à Secretaria de Planejamento. Com a nova secretaria, o que muda no sistema?
Rolt – Tudo o que se refere às questões interna de uso de TIC passa para a diretoria de governo eletrônico na Secretaria de Governo. A SCTDES estará voltada para fora da prefeitura, para a ciência, tecnologia e desenvolvimento econômico sustentável da cidade. Ela atuará de forma integrada com a Secretaria de Governo (Segov), tanto que, no momento, as duas pastas estão sob a mesma coordenação.
GCD – Das disposições do decreto, o que já foi implementado?
Rolt – Muito pouco. A SCTDES está voltada para o ambiente externo, para a cidade. As ações que o decreto normatiza estará sob responsabilidade da Secretaria de Governo, na diretoria de e-gov, tendo sido criadas as gerências de redes, sistemas, portal corporativo e serviços internos de TIC.
GCD – A indústria de tecnologia está bem desenvolvida na cidade? O que pensa para estimular o crescimento desse setor econômico?
Rolt – Este setor já está relacionado entre os primeiros no ranking de pagamento do ISS, mesmo com o incentivo fiscal consolidado em lei. Florianópolis, pelas suas características ambientais e pela quantidade de instituições de ensino e pesquisa que aqui atuam, tem tudo para emplacar como a cidade da tecnologia, que precisa permear e induzir todas as demais atividades, como o turismo. Precisamos buscar tecnologias de gestão para fomentar as cooperações entre as diversas competências complementares nestes setores. Tecnologia alavanca o turismo de negócios, mais rentável.
GCD – Como a prefeitura dialoga com o governo estadual para realizar esses projetos? Há alguma iniciativa em comum ou que conte com o apoio do Estado?
Rolt – No atual momento, a sintonia com o Governo do Estado é forte, e isto tem sido visível para todos nas parcerias para realização de obras e, no caso, para a implantação do Sapiens Parque, que é um projeto nacional e está em nosso município. É muito importante para Florianópolis que o prefeito e o governador se entendam e atuem de forma sincronizada.
GCD – Por falar em governo do estado, de que forma a prefeitura se apropria das inovações do Centro de Informática e Automação de Santa Catarina (Ciasc)?
Rolt – O Ciasc tem sido parceiro na prestação de serviços e compartilhamento de infraestrutura. Todo o sistema de gestão da educação do município está sob responsabilidade do Ciasc.
Agora, com o projeto do governo eletrônico, vamos incentivar esta relação, pois não faz sentido a prefeitura duplicar a estrutura que o governo do estado já tem em Florianópolis, em especial no que se refere a datacenter e sistemas de gestão corporativa.