As músicas gravadas, em 1969, pelo antropólogo Rafael José de Menezes Bastos estão sendo reaprendidas hoje pelas crianças da aldeia dos kamaiurá, no Alto Xingu, Mato Grosso. Obra pioneira e divisor de águas na etnomusicologia, o pesquisador lança nesta quinta-feira, 19, às 18h, na Escola Livre de Música Compasso Aberto, em Florianópolis, ”A festa da jaguatirica – Uma partitura crítico-interpretativa.Reunindo”, em 526 páginas, 45 anos de pesquisas, o livro inaugura a Coleção Brasil Plural da Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC). As informações são da Agecom.
Para repassar a cota de livros devida aos índios e devolver, concretamente, resultados dos estudos, a EdUFSC sonha realizar também um lançamento no Parque Indígena do Xingu. Exibindo bela capa e moderno projeto gráfico, A festa da jaguatirica apresenta fotos, ilustrações e a descrição integral de um ritual musical ameríndio. Brinda igualmente os leitores com um CD de sons colhidos e eternizados pelo antropólogo, chamado carinhosamente de avô pelos jovens da aldeia. Rafael tem uma explicação para tanto respeito e prestígio junto à comunidade indígena: “É muito simples. Basta não roubá-la, não traí-la; aliar-se a ela. Depende, com certeza, da seriedade e do comprometimento do estudioso, e de seu afeto.” A coleção abre espaço para divulgação da produção científica do Instituto Nacional de Pesquisa Brasil Plural (INCT), contando com apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia, CNPq, Capes, UFSC, UFAM e das Fundações de Amparo à Pesquisa de Santa Catarina e do Amazonas (Fapesc e Fapeam).
Durante bate-papo e pré-lançamento na 17ª Feira do Livro da EdUFSC, no Centro de Convivência da Universidade, o antropólogo denunciou os retrocessos nos direitos dos índios no Brasil. Os avanços nas pesquisas antropológicas, segundo ele, conflitam com a realidade. “Estamos diante de verdadeiros campos de concentração, onde a vida não vale nada”, indignou-se, perdendo um pouco o bom humor. O renomado antropólogo Anthony Seeger, da Universidade da Califórnia (EUA), acredita que o livro será um aliado vital dos futuros pesquisadores, entre os quais, “certamente estarão jovens kamaiurá em busca de entender e salvaguardar suas tradições”. Rafael de Menezes Bastos é autor, pela EdUFSC, do livro A musicológica Kamaiurá – Para uma antropologia da comunicação no Alto Xingu. Resultado da dissertação de mestrado na UnB, em 1976, a segunda edição saiu, em 1999, pela EdUFSC, sendo seu conteúdo incorporado a Festa da jaguatirica, que terá também um lançamento em Manaus, organizado pelo Instituto Brasil Plural e pela Universidade Federal do Amazonas. Em promoção na Feira da EdUFSC, que prossegue até sexta, dia 20, o livro está sendo oferecido com 30% de desconto, passando de 59 para 40 reais.