Durante quatro horas na tarde desta quarta-feira, 1º, a CPI dos Radares realizou oitiva com o delegado da Polícia Federal Allan Dias, responsável pela Operação Ave de Rapina, deflagrada em novembro de 2014, que revelou um esquema de corrupção em órgãos públicos de Florianópolis, envolvendo empresários, servidores públicos e vereadores. As informações são da assessoria de Comunicação da Câmara Municipal.
Em relação à Operação Ave de Rapina, o delegado reiterou que o vereador César Faria era o líder de uma organização criminosa. “O vereador César Faria era responsável por indicar cargos para o IPUF (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis). Nós interceptamos ligações telefônicas, e em várias vezes o Júlio (Pereira Machado), e o Adriano (Melo) fazem menção ao vereador como padrinho”.
De acordo com o agente federal, as empresas Kopp e Focalle, responsáveis pela operação dos radares e semáforos em Florianópolis, respectivamente, cooptavam funcionários da administração municipal, no caso Júlio Pereira Machado e Adriano Melo, e depositavam dinheiro por meio de uma empresa laranja, a Artmil.
Questionado sobre a apreensão no Rio Grande do Sul em setembro de 2014 quando servidores municipais foram apreendidos com cerca de R$ 100 mil em espécie, o delegado Allan Dias explicou que apreender os servidores e o dinheiro antes da chegada ao destino é uma estratégia da Polícia Federal para a produção de novas provas. “Se eu deixo o dinheiro chegar a Santa Catarina, corro o risco de perder o valor. É uma estratégia investigativa”.
Sobre a investigação do Projeto conhecido como Cidade Limpa, o delegado sustentou que o vereador Marcos Aurélio Espíndola, Badeko, era o responsável pelo esquema de corrupção para alterar o Projeto de Lei nº 15.403/2013, de autoria do Executivo, que estabelecia novas normas para a ordenação dos elementos que compõem a paisagem construída e natural do Município.
“O vereador Badeko seria responsável pelo substitutivo global para destruir o projeto do Prefeito. O substitutivo foi aprovado pela Câmara de Vereadores, foi vetado pelo Prefeito e a Câmara manteve o veto”.
Em relação ao rombo de R$ 30 milhões que o esquema de corrupção teria gerado aos cofres públicos, o delegado Allan disse que o cálculo baseia-se em relação aos valores dos contratos, mas também leva em consideração prejuízos futuros. “Só o contrato da Focalle dava em torno de R$ 5 milhões. O da Kopp em torno de R$ 10 milhões. A Polícia Federal calcula o prejuízo causado e o evitado”.
Por três oportunidades o presidente da Comissão, Vanderlei Farias (PDT), indagou sobre o possível envolvimento do Executivo, considerando que os contratos fraudados eram elaborados e realizados na Prefeitura. E em todas as vezes o delegado Allan Dias não respondeu diretamente a questão.
O delegado mostrou preocupação com a demora do Ministério Público em se posicionar sobre o processo e destacou que diligências que foram solicitadas pelo MP já haviam sido realizadas pela Polícia Federal, como, por exemplo, os depoimentos de algumas pessoas que tinham sido realizados anteriormente.
Ao fim de quatro horas de conversa, o delegado afirmou que fez questão de depor por respeito ao trabalho da CPI dos Radares e garantiu que não tem nada pessoal contra nenhum vereador ou investigado. O presidente da CPI, vereador Vanderlei Farias, agradeceu a disposição do delegado da Polícia Federal em atender a CPI e enfatizou que os esclarecimentos foram fundamentais para a conclusão dos trabalhos da Comissão.