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Florianópolis, 25 novembro 2024
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Bancas de jornal do Centro de Florianópolis diversificam produtos e resistem à queda no número de leitores

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Por Carmelo Cañas, Felipe Lenhart e Karine Santos 

A reportagem do DeOlhoNaIlha percorreu algumas bancas de jornal do Centro de Florianópolis para ouvir de seus proprietários como é manter-se dignamente do trabalho em um ramo de comércio cujos produtos estão pouco a pouco desaparecendo – edições em papel de jornais, revistas, livros, guias e almanaques mais e mais estão sendo descontinuadas ou migrando para o meio digital.

No geral, os jornaleiros assumiram que a banca atual é uma pequena loja de conveniência – imagem reforçada pela recente atualização de layout por que todas passaram nos últimos anos na cidade. E todos reconhecem o óbvio: filas para comprar o "Jornal do Brasil" na Praça XV de Novembro jamais se repetirão. Não só porque o velho JB virou um portal de notícias, mas também porque caiu drasticamente o número de leitores de jornais e revistas que frequentam bancas.

Quando o assunto é internet e computadores, revela-se um paradoxo: ao mesmo tempo em que a informática, a digitalização de publicações e a popularização de smartphones e tablets vêm tirando leitores das edições impressas, a falta de informatização e de um sistema online de gestão nas bancas, com softwares específicos para o controle do que foi ou não vendido no regime de consignação, torna a vida desses microempreendedores ainda mais difícil.

É a chamada "venda forçada": quando a distribuidora passa para recolher o encalhe, se o jornaleiro não encontra uma revista que não vendeu, tem de pagá-la, mesmo que a localize em algum desvão de prateleira no dia seguinte. E mais: quando uma revista é vendida, a banca fica, por exemplo, com 25% do preço; quando a publicação é perdida ou furtada, a casa tem de arcar com 100% do valor.

Esse controle é todo feito na mão, em tabelas impressas fornecidas pelas distribuidoras, e no olho, para encontrar a "revistinha X, de tamanho Grande, Colorida, de XX páginas" na prateleira "Z". E essa verdadeira "função" é tarefa diária, de segunda a sexta-feira, já que as bancas funcionam como "minimercados", como bem chamou um dos entrevistados: todos os dias, dezenas e dezenas de novas publicações são entregues e dezenas e dezenas são recolhidas. E a conta precisa fechar.

Banca Catedral

A Banca Catedral é administrada desde 1994 por Adriano Silva, manezinho de 40 anos. Segundo o proprietário, o negócio ainda é bem lucrativo, apesar da queda nas vendas, que têm despencado desde o "boom" da internet.

Jornais e revistas, que antigamente eram os itens mais procurados, perderam espaço para os mangás (como são conhecidas as histórias em quadrinhos japonesas), as apostilas de concursos e cadernos de vestibular. “O público que consome esse tipo de material é bem específico. Esses conteúdos estão na internet, mas eles preferem as edições impressas”, explica Adriano.

Além do material impresso, há também uma infinidade de outros produtos, como guloseimas, cigarros e créditos para celular. Essa variedade garante que o local esteja sempre movimentado, desde a hora em que abre, às 7h30, até o fechamento, às 20h30.

Mesmo com o comércio sempre cheio, Adriano não se acomodou. Recentemente, criou um site em que vende alguns produtos que também são encontrados na banca. “Qualquer ramo tem seus altos e baixos. É preciso sempre inovar e ter persistência. Só não dá pra ficar parado e ver o negócio morrer”, completa.

Banca Praça XV

Persistência é o que não falta na vida do casal que administra a banca mais antiga de Florianópolis. A Banca Praça XV existe há quase cem anos, e o casal Irival Costa, 66, e sua esposa, Solange Maria Costa, 62, estão à frente do negócio desde 1974.

Para eles, que viram as vendas caírem drasticamente desde a popularização da internet, o segredo para manter o sucesso do comércio está no bom humor e no preço justo. “Abrimos a banca às 7h todos os dias e só saímos às 23h. Só descansamos no domingo porque a banca não abre, mas como a gente faz o que gosta, acaba sendo um prazer vir trabalhar”, conta Solange.

Enquanto a proprietária mantém os jornais e revistas organizados, seu marido fica no caixa atendendo os clientes. Nos horários de pico, os dois concentram-se no atendimento. O lucro vem da venda de bebidas, guloseimas, cigarros, entre outros. “Há 30 anos eu chegava aqui com um fardo do 'Jornal do Brasil' nas costas e já tinha fila para comprar. Agora, se vendo meia dúzia da 'Folha de S. Paulo', é muito”, diz Irival.

Mas, segundo os donos, ainda existe um pequeno público que busca por material impresso para leitura e entretenimento, como revistas segmentadas e palavras-cruzadas. “Foi-se o tempo que as pessoas entravam aqui e compravam duas ou três revistas e mais o jornal do dia. Isso não existe mais”, completa Irival.

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