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Florianópolis, 22 novembro 2024

Projeto Andares em Florianópolis entre os dias 16 e 19 de março

VariedadesProjeto Andares em Florianópolis entre os dias 16 e 19 de março
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Entre os dias 16 e 19 de março será realizado em Florianópolis o Projeto Andares, uma residência artística envolvendo criadores catarinenses cujos trabalhos enfatizam relações de diálogo entre arte e cidade. Sob coordenação e direção de Bianca Scliar, artista formada pela UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina) e Loli Menezes, formada em cinema pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), dez artistas de diversas regiões do estado vão investigar processos da arte contemporânea e propor performances, ações e intervenções no Edifício das Diretorias e pelas ruas do centro da capital.

Financiado com recursos da FUNARTE esta será uma das primeiras experiências de “residência artística”, prática comum em outros países, a ser realizada em Florianópolis. O público poderá participar desse processo inscrevendo-se para assistir as performances no Edifício das Diretorias. Em algumas situações apenas como espectadores, mas na maioria das vezes como participantes ativos das intervenções.

No blog do projetowww.projetoandares.blogspot.comé possível acompanhar os trabalhos do grupo e conhecer as obras e ideias dos artistas selecionados para a residência.

Biografia das coordenadoras:

Bianca Scliar

Graduada em Artes Plásticas pela UDESC e com mestrado em Arte Pública e Estratégias Contemporâneas pela Bauhaus Universtiät, Alemanha. Em seu trabalho a artista interdisciplinar investiga fluxos urbanos, expansão do conceito de coreografia e utilização de objetos performáticos na cidade. Atualmente é doutoranda da Concordi University em Montreal, onde pesquisa intersecções entre urbanismo, dança e artes visuais em performance. É membro do Conselho Editorial de INFLEXIONS, A Journal for Research Creation, que fomenta a junção entre Filosofia e Arte Contemporânea.

Loli Menezes

Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina, cursou Cinema e Vídeo na Universidade do Sul de Santa Catarina. Trabalhou com diferentes bitolas, super 8, 16mm, vídeo digital e analógico, 35mm, exercitando o olhar e experimentando diferentes texturas. Em 2005 fundou a Vinil Filmes, associação cultural com sede em Florianópolis. Diretora premiada dos curtas Ocorredor e Isto não é um filme. Atualmente se dedica também à produção de documentários e à experimentação de outras linguagens nas artes visuais, como videoarte e intervenções com performances.

Os artistas selecionados para ANDARES:

Angela Waltrick – Lages
Adrian Herberto Guzman (MakeOne) – Itajaí
Asdra Martin – Florianópolis
Cleístenes Grott – Florianópolis
Bruno Bachmann – Blumenau
Fernando Weber – Palhoça
Joelson Bugila – Criciúma
Marina Baldini – Florianópolis
Silmar Pereira – Florianópolis
Suzana Sedrez – Blumenau


Para mais informações sobre a proposta, leia a seguir a entrevista concedida pela coordenadora Bianca à assessoria de imprensa do projeto:

Em Florianópolis, não conhecemos muito a proposta de uma “residência artística”, explique do que se trata.
A idéia de Residência surge a partir dos coletivos de artistas, que buscam estratégias de intercâmbio e a criação de estruturas que permitam um mergulho e produção intensa. Há residências no mundo inteiro, das mais diversas durações (de dias a um ano) e elas normalmente são temáticas- propondo um “problema” que o artista deve se confrontar e articular a partir de sua linguagem peculiar.
As residências normalmente ocorrem em centros de cultura e oferecem assim uma infra-estrutura, tipo maquinário de gravura, impressão, laboratórios etc.
No nosso caso, iniciamos o projeto com um desafio, que foi abrigar uma residência sem centro de cultura nos amparando, mas sim um edifício onde normalmente não ocorrem atividades artísticas, que é o Ed. das Diretorias – também conhecido como o Ed. das Secretarias.
Como nossa proposta era problematizar estratégias e abordagens do urbano na arte contemporânea, nada mais apropriado do que ‘abrigar’ os participantes no Prédio que hospeda as secretarias responsáveis pelo urbanismo e planejamento estrutural do estado.
O prédio é a espinha dorsal do trabalho, tema e também estrutura onde os artistas vão se inserir (apesar de eles não estarem hospedados, realmente ali, o que tivemos que resolver com hotel e acomodações mais tradicionais).

Como surgiu a ideia do Projeto Andares?
Curiosamente a idéia surgiu a partir de um fascínio nosso pela estrutura do prédio, principalmente por sua fachada traseira (não sei como dizer isso de forma mais elegante e menos erótica…), as escadarias e vetores super modernistas de sua construção.
Quando comecei a perceber um grande interesse na produção contemporânea sobre o tema ‘a cidade” saquei que a criação de uma residência – que pudesse se tornar plataforma para aprofundar estratégias – seria uma iniciativa perfeita para aquele lugar.
Os órgãos que são sediados no edifício têm uma relação mais pragmática com questões que vem atraindo muitos artistas, mas há ainda uma separação muito grande entre as duas formas de pensar as estruturas urbanas- ñ necessariamente uma divisão de opiniões, muito pelo contrário- mas uma falta de plataformas para que a troca existe.
Fala-se muito hoje na existência de utopias urbanas, onde haja um equilíbrio entre a ordem e também o espaço para o espontâneo- esse equilíbrio só ocorrerá se tivermos oportunidades cotidianas de exercitá-lo- experimentar.

Quais os critérios para a seleção dos artistas?
Ficamos muito orgulhosos que Neste primeiro ano o projeto que ocorre com apoio da FUNARTE oferece uma bolsa de participação e sem custo nenhum para os inscritos- poucas residências artísticas podem oferecer isso hoje- há sempre um custo de moradia etc… Lançamos uma chamada e analisamos as propostas, materiais de todos os interessados.
Sempre buscando balancear participantes que estão em fases variadas de seu processo criativo- temos artistas super maduros em seu processo, outros menos- acreditamos muito nesta troca e no potencial de colaboração que a estrutura das atividades promove.

Quais os objetivos do Projeto Andares, em relação aos artistas e a cidade?
Há dois eixos principais que norteiam o trabalho:
O primeiro é um objetivo quase ” pedagógico” em propiciar uma plataforma para que artistas que já trabalham com a cidade complexifiquem seus questionamentos em relação ao urbano. vamos enveredar por questões bastante profundas em relação ao espaço, questões estas que nos permitam compreender que a cidade não é apenas Suporte para o trabalho do artista, mas sim que o artista pode articular a própria cidade: trabalhar COM o espaço urbano e não NO espaço urbano. Para entender a profunda diferença desta abordagem é necessário desmontar conceitos básicos que estão sedimentados em nossa concepção espaço-temporal- derivada principalmente da noção modernista do mundo (homem- ocupa-espaço).
Entendemos o urbano como mídia que constitui-se a partir da experiência coletiva e singular- trabalhando sempre com a idéia deEventos,um conceito muito forte da filosofia processual que concebe o mundo a partir das potencialidades (virtual) e do que se actualiza a partir da experiência (actual).
Para intensificar o trabalho todos os participantes compartilham um pacote e leituras, que nos conduzem por essas reflexões teóricas muito atuais sobre a natureza do espaço-tempo da cidade, nos permitindo extrapolar conceitos que muitas vezes temos como ‘óbvios’, mas que são na verdade solidificações de pensamento bastante questionadas hoje, tais como a idéia de que ‘espaço’ é algo estático, onde atuam os sujeitos (super ‘kantiana’). Assim, por exemplo entendemos o graffite não apenas como uma manifestação visual, mas como uma manifestação que propõe outros modos de estar, mover-se e actualizar lugares invisíveis da cidade- este espaço simultaneamente compartilhado mas fruto de experiências singulares.
De outro lado queremos também trazer à tona a presença do edifício, temos como ‘problema’, desafio articular sua história, sua arquitetura, usos e fluxos nesse processo- contribuindo com um outro tipo de memória da cidade, que faz com que a arquitetura recupere o potencial de articular as temporalidades que representa, já que o prédio é hoje a marca de um desejo de futuro que já se tornou obsoleto sem nunca ter se concretizado (o modernismo dos anos 50). A partir deste tipo de ações e iniciativas artísticas é que torna-se possível entender a arquitetura como palimpesto de histórias que desaparecem e deixando rastros de uma realidade real, sonhada ou utópica.

O que o público da cidade poderá ver desse processo?
Durante as manhãs estaremos realizando pesquisas e exercícios nos arredores e dentro do edifício.
Todas as noites abrimos para um reduzido público inscrito (por uma questão de segurança), com quem vamos compartilhar o resultado do processo e investigações daquele dia. Apesar de termos um fio condutor contínuo, cada dia tem um tema fechado em si:

Dia 1: Corpos: Limites, Escalas e Suspensoes. Dia 2: Fluxos: Deslocamento, Vetores e Ritmo. Dia 3: Potenciais: Silêncios, Esperas e Vazios. Dia 4: Rastros: Sobras, Reflexos e Invisibilidades.
O principal é entender que na residência não trabalhamos com a idéia de espetáculo conclusivo:quem for participar do trabalho de noite, vai ter que efetivamente participar- cada dia o público vai receber uma ‘tarefa’.
Nosso ‘objeto’ artístico final será um vídeo, produzido em parceria com a Vinil Filmes, esse sim uma conclusão do processo, que poderá ser visto dentro de algumas emanas em exibições por todo o estado. O público que vier participar nas noites vai contribuir com a produção deste vídeo de formas diversas.
Fiquem ligados, pois todos os dias lançaremos os convites explicando a ação daquela noite.

Quais desdobramentos espera a partir desse projeto?

O desdobramento o produto artístico é a produção deste Vídeo- também que todos os participantes possam desdobrar os processos criativos que trabalhamos aqui- que chamamos de Plataformas Relacionais em sua prática em sua cidades de origem.

Definitivamente faremos outras edições do projeto- potencialmente problematizando outras estruturas arquitetonicas da cidade, e esperamos cada vez poder oferecer condições melhores de trabalho pros artistas.

Agradecemos ao Deinfra pela confiança e interesse no trabalho, a FUNARTE pelo incentivo.