A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o tabagismo como a dependência da droga nicotina, presente em qualquer derivado do tabaco, seja cigarro, cigarrilha, charuto, cachimbo, cigarro de palha, fumo de rolo ou narguilé. Dados da pesquisa mais recente (2019) realizada pelo Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, demonstram que 9,8% dos brasileiros têm o hábito de fumar. O percentual representa aproximadamente 22 milhões de indivíduos. Mesmo que sinalize uma queda, uma vez que de acordo com o mesmo estudo, nos últimos 12 anos, a quantidade de pessoas que fumam caiu 40% no país, são números que carecem atenção, pois, este costume acarreta também outros problemas de saúde. Assim, foi instituído o Dia Nacional de Combate ao Fumo, em 29 de agosto, com o objetivo reforçar as ações nacionais de sensibilização e mobilização da população para os danos sociais, políticos, econômicos e ambientais causados pelo tabaco.
Para se ter uma ideia, conforme o Ministério da Saúde, em cada tragada no cigarro tradicional, o fumante inala mais de 4.720 substâncias tóxicas, como: monóxido de carbono e amônia, além de 43 substâncias cancerígenas, sendo as principais: arsênio, níquel e chumbo. O cardiologista e diretor de Relacionamento com o Mercado do Sabin Medicina Diagnóstica, Bruno Ganem, explica que o hábito de fumar é considerado uma das principais causas isoladas, evitáveis, de morte precoce em todo o mundo. “Estima-se que, no Brasil, a cada ano, cerca de 157 mil pessoas morram precocemente devido às doenças causadas pelo tabagismo”, pontua o médico. Isso porque, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer, o tabagismo ou dependência de nicotina tem relação com aproximadamente 50 enfermidades, dentre elas vários tipos de câncer, como: pulmão, laringe, esôfago, estômago e outros. Doenças do aparelho respiratório, por exemplo: enfisema pulmonar, bronquite crônica e infecções respiratórias. Ou ainda, doenças cardiovasculares: infarto, hipertensão arterial, aneurismas, acidente vascular cerebral, tromboses.
Mesmo com esse cenário, por tratar-se de um vício, muitos fumantes não conseguem abrir mão do uso. Um levantamento do Ministério da Saúde demonstra que quase 80% dos fumantes acenderam o primeiro cigarro com menos de 20 anos, e 20% com menos de 15 anos. “A questão é justamente essa: depois de experimentar e gostar, muitos seguem com a prática ao longo da vida. Grande parte desses indivíduos começou cedo e, quanto mais tempo, maior o efeito nocivo”, comenta Bruno. O especialista pontua que a absorção da nicotina, substância presente nos variados fumos, atinge o cérebro entre 7 e 19 segundos, liberando substâncias químicas para a corrente sanguínea que levam a uma sensação de prazer e bem-estar. “Essa sensação faz com que os fumantes usem o fumo várias vezes ao dia. Por sentir prazer, torna-se uma válvula de escape em situações de estresse, para ‘relaxar’. Ele, então, passa a acreditar que só conseguirá manter a calma com o uso do tabaco, que pode ser de diversas maneiras. E daí parte o ciclo vicioso”, afirma.
Bruno defende o acompanhamento multiprofissional para ajudar no processo de cessação de tabagismo. “A procura por médicos e psicólogos pode contribuir para o fim do vício. Estes profissionais podem auxiliar em estratégias para lidar com os momentos de abstinência e uso de medicações que possam minimizá-los. Este processo muitas vezes é longo e pode apresentar recaídas, mas que, quando bem sucedido, trará muitos benefícios para o indivíduo”. O cardiologista também reforça a importância de acompanhamento médico de fumantes para diagnosticar e tratar precocemente doenças relacionadas diretamente ao cigarro e outros fatores de risco que possam, em concomitância com o tabagismo, ampliar o risco de infarto e derrame (hipertensão, diabetes, colesterol elevado), além de estimular o hábito de vida saudável com alimentação balanceada e atividade física. Ao identificar precocemente, pode-se evitar um caso mais grave. Quando a descoberta é feita em um estágio mais avançado, menores são as chances de sucesso no tratamento sem grandes prejuízos para o indivíduo”, finaliza.
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