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Florianópolis, 24 novembro 2024

Onde os Manezinhos da Ilha se encontram

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Apesar do crescimento da cidade, alguns antigos pontos de encontro continuam referência para a confraternização dos nativos. O Mercado Público (foto acima) é o grande point dos manezinhos, principalmente aos sábados e finais de tarde.

Os nativos da Ilha de Florianópolis mantém viva a lembrança de lugares que há muitos anos foram criados para reunir moradores. Alguns pontos existem para um bate-papo, outros com a proposta de promover a recreação. Eles sobrevivem ao tempo e às transformações da cidade, como é o caso das mesas de jogos da Praça XV de Novembro e da Rua Felipe Schmidt, e do Senadinho (Ponto Chic), numa das esquinas mais movimentadas da Capital.

Um dos jogadores dessa roda é José Alberto Flores, 61 anos, funcionário público que se autodenomina como o autêntico manezinho da Ilha. Há 40 anos ele freqüenta o Senadinho, participa dos jogos e toma o café no Ponto Chic, cafeteria inaugurada em 1948. É um lugar pequeno e célebre por haver sido ponto de encontro e de debates políticos no passado. O café coado é o item mais antigo e também o mais pedido do cardápio.

Outro ponto tradicional de Florianópolis é o Bar Ilhéu, na Avenida Osmar Cunha, fundado em 1989. Já recebeu também políticos catarinenses e moradores da Ilha. O Emporium Bocaiúva também é um dos locais de encontro dos nativos, principalmente no sábado. Outro local bastante freqüentado por autênticos manezinhos é o restaurante Lindacap. No Mercado Público, o Box 32, bar surgido em 1984 e famoso ponto turístico, reúne pessoas de vários segmentos, o que lhe rendeu bar o apelido de “o balcão mais democrático do país”.

Outros bares têm história no Mercado Público de Florianópolis. Francisco Martins freqüenta o local aos sábados pela manhã. “Enquanto a mulher vai fazer as compras dela, eu fico aqui tomando uma cervejinha e conversando com os colegas”, conta o técnico em telecomunicações. Ele lembra que o mercado pertencia a outro segmento com o comércio de verduras e itens de açougue, além da peixaria. O bar do Alvim, que hoje se chama Bar Spinoza, também sofreu mudanças. “Era o Armazém Spinoza, de secos e molhados. Com a chegada dos outros bares, o Spinoza acabou transformando o local num bar para continuar atendendo aos seus clientes”, relata Francisco. Mesmo com as transformações, o técnico acredita que o Mercado Público ainda é o melhor lugar para encontrar os nativos e afirma ser possível se deparar com colegas de escola.

Reunir manezinhos é também uma das coisas que a Barbearia Vargas, na Travessa Carreirão, que corta a Rua Bocaiúva, costuma fazer desde 1923. O talento com as tesouras passou de pai para filho e hoje quem cuida da barbearia é o neto, Valter Vargas, com a participação dos filhos. Entre os manezinhos que frequentam o local está José Carlos Daux Filho, empresário do ramo imobiliário de Florianópolis. O pai dele já era cliente assíduo. A Barbearia Vargas ainda é responsável por reunir outras figuras ilustres da Ilha para fazer a barba, cortar o cabelo e colocar o papo em dia.

Entre os novos pontos de encontro dos nativos está o Beiramar Shopping.

Além do Centro

Os tradicionais e antigos pontos de encontram não se resumem ao Centro. Outros bairros bem manezinhos mantêm a tradição. Na Lagoa da Conceição as festas que reúnem a comunidade local são realizadas na Sociedade Amigos da Lagoa (SAL). Lá festas e danças promovem a cultura local e proporcionam momentos de recreação aos moradores da região. É na Lagoa também que está o restaurante mais antigo da Ilha, o Oliveira. O local serve comidas típicas e é o precursor da famosa sequência de camarões.

No Ribeirão da Ilha, a diversão dos manezinhos é jogar dominó, uma brincadeira que se renova a cada geração. Nos finais de semana eles reúnem-se no bar conhecido como “Venda do Bozó”, mas chamado por eles mesmos de “Meca”. Nas sextas-feiras, a partir das 19h, horário predileto dos frequentadores, o bar chega a reunir 80 pessoas que se revezam nas mesas de jogo. “Aqui é o lugar da nova e da velha geração, onde pai, filho e neto se encontram pra jogar”, conta Éderson Moisés, 32 anos. E revela que, entre as coisas que gostam de falar, está o futebol. Reconhece que o local é um reduto avaiano, mas faz questão de destacar que é um espaço democrático. A conversa vai além do futebol. “Falamos sobre tudo aqui, principalmente sobre a vida dos outros”, brinca Éderson.

Os itens mais pedidos do cardápio do bar são o pastel de camarão e o bolinho de aipim com carne seca, receitas caseiras e preparadas na hora. Alberto Fermiano, de 49 anos, faz parte das rodinhas do dominó e lembra que a pescaria também é assunto nos encontros. “Quando se fala sobre futebol todos se dividem, quando se fala em pescaria todos mentem”, brinca.

Desapareceram

Em Cacupé, um antigo bar construído há mais de 15 anos em frente ao SESC reunia jovens moradores para um lanche e, nos finais de semana, para curtir grupos de pagode. “Tinha até uma música que eles fizeram sobre o bar”, conta Edna Xavier, vendedora da loja Arte Catarina, localizada no SESC. Ela lembra que, no dia em que os veículos da Prefeitura chegaram para demolir o bar, a proprietária chorou muito. O bar deu lugar a um passeio de pedras e bancos para contemplação do mar. Segundo Edna, no local onde o bar existia a Prefeitura deve construir outro estabelecimento com as mesmas características.

Criado em 1974, o Kayskidum, na Beiramar de Florianópolis, atendia pedidos no drive-thru. Hoje ainda é possível pedir um lanche e ser atendido no carro, mas com a modernização do espaço e com o crescimento da cidade, as vagas próximas acabaram se tornando estacionamento da lancheria e de outros empreendimentos gastronômicos das proximidades.

Por Elida Hack Ruivo (Publicada em 12-08-2009 no Jornal Imagem da Ilha)