Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) divulgaram uma carta aberta, nesta terça-feira, na qual alertam sobre os riscos em decorrência das dragagens para o engordamento da praia de Canasvieiras, em Florianópolis. O documento afirma que a sociedade civil e as instituições da região não tiveram conhecimento “se todos os requisitos ambientais foram atendidos para garantir um processo com segurança”.
Os professores Paulo Antunes Horta e Leonardo Rorig, coordenadores do Laboratório de Ficologia do Centro de Ciências Biológicas (CCB), chamam a atenção para as possíveis consequências da atividade na área. Segundo os pesquisadores, o processo pode induzir a ocorrência de maré vermelha e causar prejuízos para a economia da região, que tem entre as principais fontes de renda a pesca e a maricultura.
A maré vermelha trata-se de um fenômeno natural e esporádico que consiste em um pico de crescimento de microalgas (fitoplâncton) em determinadas áreas, fazendo com que a cor da água se altere para tons de amarelo, vermelho ou alaranjado. Essas microalgas produzem toxinas que contaminam os moluscos, impossibilitando o comércio ao consumidor.
A carta aberta publicada nesta terça salienta que os bancos de areia no Norte da Ilha já foram palco de inúmeros eventos de floração de algas nocivas que potencialmente deixaram cistos (“sementes”) na região. O texto reforça que a legislação ambiental demanda a realização de análises prévias para garantir a segurança de empreendimentos dessa natureza. O fato de a jazida estar a cerca de um quilômetro da costa potencializa ainda mais os riscos.
“Não podemos ignorar que estamos a menos de dez quilômetros da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, que terá seu patrimônio ameaçado por esta atividade, pois além de nutrientes, muitos outros poluentes se acumulam nestes bancos de areia e são re-diponibilizados pela dragagem”, traz o documento. “Nesse sentido, entendemos a importância social e econômica do presente empreendimento, mas não podemos deixar de alertar a sociedade para os riscos que um processo mal fundamentado apresenta”, finaliza.
O mercado
Santa Catarina lidera o mercado nacional de ostras, com 98% da produção. Segundo dados do InfoAgro, foram produzidas aproximadamente 2,5 mil toneladas em 2017. A UFSC atende os ostreicultores, fomentando o comércio local há mais de duas décadas. O mercado, entretanto, tem esfriado desde 2014, principalmente devido à maré vermelha.
A maricultura catarinense data da década de 1980, anteriormente só se cultivavam mariscos. Quanto à distribuição geográfica, atualmente Florianópolis lidera a produção de moluscos no estado, com exceção dos mexilhões, com produção majoritária em Palhoça. Outras cidades com produção expressiva são Penha, Governador Celso Ramos e São José. O mercado é concentrado em Santa Catarina pelas condições climáticas, como a temperatura da água, que possibilita safras de ostras japonesas, por exemplo.