Débora Simas percorreu em sete dias 800,61 km em cima de uma esteira, superando todos os limites do corpo humano. Atleta já renovou o compromisso para tentar novamente a quebra do recorde mundial.
Foram sete dias de muito esforço e determinação e 800,61 km percorridos. O que para muitos pode parecer loucura, para a ultramaratonista catarinense Débora Simas, 48 anos, é sinônimo de prazer. Deby, como é chamada pelos familiares e amigos virou celebridade nos dias em que esteve sobre uma esteira tentando quebrar o recorde mundial da britânica Sharon Gayter e ultrapassar a marca de 833 quilômetros e 5 metros em esteira durante sete dias. “Era mais do que um sonho, era uma vontade de provar para mim e para todas as pessoas, que a gente é mais forte do que pensa e é capaz de ir além dos limites. Infelizmente o recorde não veio”, explica Débora.
Entre corrida e caminhada, ela permaneceu por mais de 20 horas por dia em cima da esteira, com pausas estratégicas apenas para idas ao banheiro e descansos. Aliás, foram eles que fizeram com que a ultramaratonista aguentasse firme as 168 horas de desafio, iniciadas no dia 14 de julho. “Foi bonito acompanhar de perto o apoio do público que frequentou o shopping nesses dias e o empenho de familiares e amigos inclusive nas madrugadas para manter a atleta acordada”, destaca Carlos Pamplona Júnior, diretor de marketing do Beiramar Shopping, em Florianópolis, que serviu de palco para o desafio.
O objetivo inicial era alcançar o recorde mundial e faltaram apenas 32,44 km para o feito, mas Débora terminou o desafio com um sorriso no rosto e com uma determinação: “eu não vou desistir. Descobri nestes sete dias uma força que eu não imaginava ter e, acima de tudo, um apoio incondicional de pessoas que sequer me conheciam, mas que não mediram esforços para me apoiar, me mandar boas energias, para estar ao meu lado na busca deste sonho, que deixou de ser apenas meu e agora foi compartilhado com muita, mas muita gente”, comentou Débora.
E a atleta desceu da esteira depois de sete dias com dois importantes títulos: a catarinense Débora Simas, que há 25 anos escolheu Floripa para morar, é a nova detentora dos recordes brasileiro e sul-americano de corrida em esteira.
Uma equipe formada por mais de 150 profissionais, incluindo juízes, médicos, nutricionista, fisioterapeuta e treinador garantiu a segurança da atleta. “Provas como esta exigem muito do corpo do atleta e precisamos estar atentos a todos os sinais, como o cansaço que surge com a privação de sono e esforço físico. Para que tudo corresse bem, seguimos uma dieta especial, cuidados da saúde dos pés, pernas, coluna e, principalmente, do psicológico”, detalha a enfermeira Magda Chagas, que acompanhou Débora desde o início do desafio.
A inspiração para o desafio está no também ultramaratonista brasileiro Márcio Vilar, detentor do recorde masculino, que é de 827 quilômetros e 16 metros correndo em esteira durante sete dias. “Assisti uma palestra do Márcio e decidi que queria fazer isso também. Ano passado corri uma prova de mil quilômetros, foi um treino para saber como o meu corpo iria reagir”, explica a ultramaratonista. Os treinos de corrida foram orientados pelo amigo e treinador Paulo Domingos Pereira Filho, experiente na preparação de ultramaratonistas e corredores de montanha, que é o caso de Débora Simas, a única mulher a terminar a 1000K Brasil, uma prova de mil quilômetros completados em dez dias. Em dezembro de 2018 ela iniciou os treinos oficiais para a tentativa de quebra de recorde, com uma esteira instalada em casa. “Passei grande parte do dia correndo e dormindo poucas horas por noite, para que meu corpo pudesse se adaptar”, conta.
“Meu sonho, quando pisei aqui nessa esteira, deixou de ser apenas meu e passou a ser compartilhado com muita gente e é com todos esses que eu quero dividir essa conquista”, comenta emocionada Débora.
Questionada sobre se ela pensou em desistir, Débora foi categórica: jamais! “Meu corpo algumas vezes deu sinais de fraqueza, mas meu sonho e minha determinação foram sempre maiores. Alguns me chamam de louca, outros de sonhadora. E eu? Eu sou apenas uma pessoa simples, que foi cativada em busca de um sonho e que nunca mediu esforços para chegar aonde cheguei. Mas nunca caminhei sozinha, sempre tive muito apoio de amigos e família, pois foram eles, dia e noite, que me deram força. E eu sempre mantive uma frase na minha cabeça, ou melhor, uma música: erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé, manda essa tristeza embora, basta acreditar que um novo dia vai raiar e sua hora vai chegar. E assim, ela chegou! Não veio o recorde mundial, mas sim, veio o meu maior recorde, a minha maior superação, e eu ganhei muito mais do que poderia imaginar: apoio incondicional de milhares de pessoas. E a minha mensagem: façam esporte, ele vale a pena”.
Um dos grandes apoiadores desse sonho foi Cristiano Carpinelli, amigo de Débora e que tornou-se seu grande inspirador e patrocinador. Uma pergunta que todos fazem é: o que faltou para Débora conquistar seu sonho. E Cristiano prontamente esclarece: “a privação do sono foi o maior inimigo, foi o fator decisório, foi o que separou nossa Deby do título mundial. Qualquer pessoa normal, com uma noite mal dormida já tem uma baixa no desempenho, imagine só 7 dias e 7 noites quase em claro… Mas para todo nós ela já é uma grande campeã”, comenta Cristiano.
Débora Simas é catarinense, nasceu em Rio do Sul e mora em Florianópolis. Começou a correr aos 32 anos de idade e com apenas oito anos de prática esportiva foi campeã da Brasil 135 Ultramarathon, a principal ultramaratona brasileira. Agora ela escreve seu nome na história, a primeira brasileira ultramaratonista a conquistar o recorde brasileiro e sul americano.
Confira como foi o Diário de Bordo dessa aventura:
Dia 21/7
– Distância percorrida às 8h: 716,64 km
– Distância percorrida às 10h: 787,44 km
– Distância percorrida ao meio dia: 800,61 km
– Recorde Sul-americano em esteira
Dia 20/7
– Dia marcado pela superação e por grandes visitas. O manezinho Gustavo Kuerten foi até o Beiramar Shopping dar seu apoio para a maratonista, assim como o campeão mundial e ultramaratonista Luciano Alves.
– Parcial das 20h: 731,69 km
– Parcial das 14h: 688,90 km
– Parcial do meio dia: 675 km
– Parcial das 8h: 649,47
Dia 19/7
– Completou a marca de 576,01 ao meio dia.
– Essa noite ela teve uma queda, realizou uma parada mais longa para descanso e agora está renovada para alcançar a quebra de recorde mundial.
– Todas as paradas estão dentro do previsto, segundo a comissão organizadora.
Dia 18/7
– A estratégia é tentar recuperar mais energia, por isso as paradas para descanso passam a ser mais frequentes.
– Completou a marca de 490,5 km ao meio dia.
– No período do desafio ela dormiu apenas 2h44 minutos.
Dia 17/7
– Até o meio dia desta quarta-feira a atleta já percorreu 386,42 km
– Algumas curiosidades sobre a alimentação dela de hoje, fora da alimentação tradicional da atleta: ela comeu açaí com mel, aveia e paçoquinha em forma de shake. Além disso, comeu pão de queijo, rapadura e mariola, tudo isso para não perder peso e para se manter motivada.
Dia 16/7
– Ao meio dia, com 48 horas de desafio, a atleta alcançou a marca de 278,70 km percorridos.
– Atleta já perdeu dois quilos até o momento, mas tudo dentro do planejado. Por isso, junto com a alimentação são administrados alguns suplementos para acelerar o metabolismo e acrescentar energia, uma vez que isso resulta em pouca perda de músculos e gorduras. Os alimentos estão sendo triturados no liquidificador para facilitar a digestão e diminuir o gasto energético.
Dia 15/7
– Nas primeiras 24 horas a atleta percorreu 154,12 km
– A atleta dormiu/cochilou apenas 30 minutos nessa madrugada
Dia 14/7
-12h – início do desafio
– Por volta das 17h42 completou 42 km – percurso de uma maratona