Por Carmelo Cañas, editor do DeOlhoNaIlha
No último domingo, 14 de abril, o Figueirense perdeu para a Chapecoense por 1 a 0, em Chapecó, e acabou eliminado do Campeonato Catarinense. Frustrados com o resultado, dois torcedores do Figueirense que estavam na Arena Condá não aguentaram as provocações da torcida local e começaram a fazer gestos imitando um avião, em uma clara referência ao acidente aéreo da Chapecoense, na Colômbia, em 2016 (clique aqui para ler a matéria do DeOlhoNaIlha e ver o vídeo da ação dos torcedores do Figueirense).
Por incrível que pareça, muitas pessoas estão defendendo os torcedores do Figueirense que fizeram esse ato, alegando que se trata apenas de provocação futebolística e que está sendo feito muito "mimimi" a respeito do caso.
Em primeiro lugar, o que os dois torcedores do Figueirense fizeram não tem nada a ver com futebol. Eles zombaram de uma das maiores tragédias da história do esporte mundial. Morreram 71 pessoas na queda do avião da Chapecoense, na noite de 28 de novembro de 2016.
A corneta futebolística nunca deve acabar, ela faz parte do futebol e torna ele ainda mais atrativo. No entanto, ela deve ser feita baseada em insucessos do adversário dentro do campo, jamais em situações trágicas extra-campo como foi a ocorrida com o time do Oeste Catarinense. É falta de caráter esse tipo de atitude.
Não foi a primeira vez que o episódio da queda do avião da Chapecoense foi usado por torcedores em provocações. Torcedores do Nacional do Uruguai fizeram atitude semelhante em confronto contra a Chape, em 2018. Torcedores do Criciúma cantaram "ão, ão, ão abastece o avião", em jogo contra a Chapecoense em 2017. Nessas duas ocasiões, a reprovação foi total por parte dos meios de comunicação e da população em geral, mas nada disso evitou que os torcedores do Figueirense repetissem a vergonhosa atitude.
O Figueirense repudiu o ato em nota oficial, mas é inegável que o episódio não pega nada bem para o clube e pode acarretar em punição, mesmo que o ato tenha sido praticado apenas por dois torcedores. Lembrando que em 2014, alguns torcedores do Grêmio foram flagrados praticando atos racistas e o time gaúcho foi multado e excluído da Copa do Brasil daquele ano.
Encerro com a nota do presidente da Chapecoense, Plínio David de Nes Filho sobre o ocorrido:
"Gostaríamos de afirmar que o fato é isolado, mas a verdade é que ele tem se repetido em inúmeras ocasiões, de maneira extremamente infeliz e cruel: Nesta tarde, na Arena Condá, a torcida do Figueirense protagonizou um ato inaceitável. Após a partida entre Chapecoense e Figueirense, os torcedores da equipe da capital fizeram gestos que imitavam aviões caindo. Uma atitude que vai além de qualquer rivalidade e que não fere apenas ao clube, mas principalmente aos familiares das vítimas e a todos que, de alguma forma, sofreram com a perda de tantas pessoas queridas.
O sentimento é de incredulidade – pois é inadmissível que um fato tão triste seja utilizado como “arma de provocação” – e, acima de tudo, de repulsa. Esperamos que as atitude cabíveis sejam tomadas e torcemos para que a insensibilidade e o desrespeito não façam mais parte de um espetáculo tão bonito como o do futebol."