A Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright recebeu na tarde desta segunda-feira, 21, ex-presos políticos da Operação Barriga Verde, que ocorreu em Santa Catarina em 1975. Na época, dezenas de líderes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) foram detidos por quase um ano. Alguns deles participaram da oitiva da Comissão da Verdade realizada na Assembleia Legislativa e relataram as cenas vividas na época, que incluíram sessões de tortura. As informações são da Agência Alesc.
Júlio Adelaido Serpa hoje tem 65 anos. Nas palavras, no semblante e na memória estão muito claras as consequências do período da repressão. “Nos primeiros 15 dias era porrada. As surras eram fortes. Depois, aliviou um pouco”, contou o ex-operário, preso em Joinville por duas vezes no ano de 1975. “Eu e meus companheiros não perdemos a vida, mas perdemos naquele momento o que tínhamos de melhor: a dignidade e a família”.
Serpa foi um dos dirigentes do PCB em Santa Catarina. “Diziam que esse partido era irregular. Nossos partidos de esquerda eram muitos pequenos. Tínhamos o poder do convencimento, mas não tínhamos capacidade logística para deflagrarmos uma revolução. A maioria de nós foi presa e não sabia o porquê da prisão”. Choques elétricos em todas as partes do corpo e muitos socos estavam no expediente dos torturadores.
Os presos eram levados de Joinville a Curitiba encapuçados, conforme contou Edgard Schuatzmann, também preso em Joinville, na Operação Barriga Verde. “Quando cheguei lá vi que era um centro de tortura. Os companheiros estavam em frangalhos. Era um clima de campo de concentração. Eles diziam: vocês vão ficar assim também”. De Curitiba, foram levados para Florianópolis onde ficaram presos por quase um ano.
Antes da Operação Barriga Verde, ele já havia sido preso duas vezes e cumprido pena por dois anos. “Meu pais perguntava se éramos loucos. E éramos. Para mim, era impossível aceitar a Ditadura”, disse o ex-operário, hoje aos 73 anos, ao lembrar dos tempos difíceis da repressão e dos métodos utilizados.
A cada semana, novos relatos são colhidos. As informações são reunidas num relatório a ser encaminhado à Comissão Nacional da Verdade.