Atuação do homem somada a fatores naturais teriam provocado o desabamento
Um relatório técnico da Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram) — ligado à Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri) — apontou a atuação do homem, somada a diversos fatores naturais, como as causas do deslizamento de uma encosta da rodovia SC-401, em Florianópolis, durante a forte chuva que atingiu a cidade em novembro.
O trabalho foi elaborado pelo mestre em geologia, Lucas Balsini Garcindo. O deslizamento causou a morte do caminhoneiro Ricardo Dias de Oliveira.
Segundo o levantamento do pesquisador, o corte feito na base do morro para a construção da rodovia retirou boa parte do ponto de sustentação da encosta. Sem nenhuma obra de contenção, essa encosta ficou mais suscetível a desabamentos.
A essa alteração feita pelo homem, somaram-se os fatores naturais que resultaram no deslizamento: chuvas intensas com aumento de pressão da água no lençol freático, acentuada declividade da encosta e as características do solo e das rochas.
Rachaduras
O estudo constatou ainda a existência de rachaduras e fissuras no morro exposto pelo deslizamento, o que indica risco de queda de blocos rochosos e mais deslizamentos. De acordo com Garcindo, a movimentação de blocos de terra nos morros de Florianópolis é um fenômeno natural, inerente à dinâmica da paisagem. O excesso de chuvas foi o estopim.
Na avaliação do local, o geólogo percebeu que alguns blocos e rochas foram escorregados da encosta inteiros, sem rolarem, já que ainda apresentavam vegetação de bromélia na superfície após o deslizamento.
O pesquisador explica que o maior vilão não foi o deslizamento em si, mas sim o fluxo de lama que veio o seguida. Essa lama desce com com capacidade para carregar tudo o que encontra pelo caminho, inclusive rochas, árvores e até construções.
Risco em outros locais
Garcindo alerta para o risco de desabamento em outros pontos elevados da Ilha de Santa Catarina, habitados de maneira desordenada — como é o caso dos morros da Caixa e do Mocotó, na região central de Florianópolis.
Segundo o pesquisador, estes locais são áreas de acentuada declividade, intensamente desmatadas e com rochas “apodrecidas” suscetíveis a eventos deste tipo. O relatório também aponta para a necessidade de construção de muros de contenção nas encostas.
No infográfico, entenda como acontece um deslizamento: