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Florianópolis, 22 novembro 2024

Criador do Greenpeace defende energia nuclear

Meio ambienteCriador do Greenpeace defende energia nuclear
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FLORIANÓPOLIS, 21 de novembro de 2008 – Patrick Moore, o palestrante mais controvertido, ontem, da Eco Power Conference, Fórum Internacional de Energia Renovável que ocorre esta semana em Florianópolis, fez severas críticas aos ambientalistas. “É muito irônico que o movimento ambientalista tenha se tornado um obstáculo para a redução dos combustíveis fósseis”, diz. “Eles são contra a energia nuclear, que representa 15% da energia mundial, são contra as hidrelétricas, que respondem por 20%, se opõem à substituição da madeira pelo plástico e à engenharia genética, embora possamos utilizá-la para produzir mais árvores que possam absorver mais rápido o gás carbônico da atmosfera”, ressalta o palestrante.

Moore foi co-fundador do órgão ambientalista Greenpeace e é o atual presidente do Greenspirit. O ativista descobriu a ecologia no final da década de 60, quando ninguém jamais tinha ouvido falar nesta palavra. “Tornei-me um militante ambiental radical por causa da Guerra Fria em 1971. Reuni um grupo de pessoas e organizei um protesto contra testes nucleares no Alasca. Achei que poucas pessoas poderiam salvar o mundo quando explodiram a bomba de hidrogênio na ilha Amchitka. Com os protestos, o presidente Nixxon cancelou novas experiências”, conta.

O Greenpace surgiu no auge da Guerra Fria. Em 1975, Moore enfrentou a frota baleeira soviética em 1975 no norte do Oceano Pacífico num barquinho inflável. “Colocamo-nos em frente aos arpões para proteger as baleias que fugiam. Quatro anos depois, a caça às baleias foi banida em várias partes do mundo”, conta. Moore foi durante 15 anos o principal comandante do Greenpeace.

Hoje ele defende um programa agressivo de energia nuclear e a hidroeletricidade porque são as únicas fontes que não emitem gases do efeito estufa e que podem substituir os combustíveis fósseis ao mesmo tempo em que suprem as demandas energéticas mundiais.

“Os políticos e as pessoas perceberão logo que a energia eólica e solar são muito caras e não possuem carga suficiente de potência. As pessoas precisam seguir o exemplo de países como Suécia, Suíça, França e o Brasil, que utilizam largamente a energia nuclear e hidrelétrica”, diz o especialista.

Segundo Moore, a energia geotérmica é 10 vezes mais importante do que a energia solar e custa menos. Ele acredita na necessidade de plantar mais árvores, mas também crê que é preciso utilizar madeira para geração de energia com biomassa.

De acordo com Moore, somente 18% da energia mundial hoje é renovável e a maior parte vem da biomassa a partir da queima da madeira. “Os combustíveis fósseis vão continuar conosco durante séculos”. Ele mostra que 30% de todas as emissões de dióxido de carbono vêm das usinas termelétricas e que é preciso reduzir urgente o uso desta fonte.

Moore questiona a real influência do nas mudanças climáticas. Segundo ele, estamos na era do gelo a uma temperatura média de 14,2ºC, 2ºC acima da última era glacial. “Nossos ancestrais sobreviveram a estas mudanças e nos últimos 600 milhões de anos, a temperatura e o têm correlação pouco expressiva”.

O palestrante não acredita no efeito maléfico do derretimento das geleiras. Para ele, o gelo é inimigo da vida, tanto é que a maior parte das espécies está no Brasil e não no Alasca. “No frio é preciso mais roupas, mais fogo e casas adaptadas”, pontua. Para Moore, as geleiras da Groenlândia, do Himalaia e dos Andes não vão degelar em 1000 anos. Se ocorrer o contrário, ele diz que florestas vão surgir no lugar.

Opinião contrária

Outra personalidade ilustre da Eco Power, o fundador da Worldwatch Institute (WWI) e presidente fundador da Earth Policy Institute (EPI), Lester Brown, se opõe a Moore. Segundo ele, há um ano, área semelhante ao Reino Unido derreteu no Oceano Ártico. “Previsões de degelo para o final do século foram antecipadas para uma ou duas décadas”, diz. Brown ressalta que na Groenlândia muitas partes ao longo da costa estão derretendo a uma velocidade de dois metros por hora. “Os cientistas nunca viram nada parecido. Em contrapartida, há uma pressão da terra, uma espécie de resposta sísmica”, defende.

Brown afirma que tal fenômeno ocorre em outras partes do mundo, como na China e na Índia, nas montanhas do Himalaia e no Planalto Tibetano. “As geleiras sustentam os rios nas estações de seca. O que vai acontecer se continuarem a derreter? Vai afetar diretamente as lavouras de trigo e de arroz e o preço das commodities e aumentar a quantidade de refugiados”, responde.

Busca pela eficiênciaBrown diz que é preciso reduzir a emissão de urgente, antecipar o prazo de 2050 para 2020. Para isso, o ambientalista propõe o aumento da eficiência energética sistemática no mundo e o desenvolvimento maciço de energias renováveis (geotérmica, solar e eólica). Ele também quer proibir totalmente o desmatamento e reflorestar com o plantio de bilhões de árvores para fazer o seqüestro de carbono, estabilização do solo e redução das enchentes.

Se passarmos para uma tecnologia de iluminação mais eficiente, que em grande parte significa utilizar as lâmpadas fluorescentes compactas, podemos reduzir o uso da eletricidade em 12%, diz Brown. “Só isso permite fechar 705 das 2.400 usinas termelétricas a carvão do mundo”, acrescenta Brown.

Segundo o fundador da WWI, os potenciais de eficiência são imensos. A quantidade de energia solar que chega na terra em uma hora é suficiente para manter a economia mundial por um ano. “O desafio é como convertê-la em eletricidade e entregá-la aos consumidores”, diz.

Menos carvão, mais eólica

Em seu livro “Plan B 3: Mobilizing to save civilization”, Brown propõe a redução das usinas a carvão, que hoje representam 48% da eletricidade gerada no mundo e transformar 40% disso em energia eólica. “Para isso necessitaríamos de 1,5 milhão de turbinas nos próximos 10 anos. Parece muito, mas produzimos 65 milhões de carros por ano. As próprias montadoras que estão paradas nos Estados Unidos poderiam produzir os aerogeradores, criando novos empregos”, ressalta.

Só para os ricos

Moore voltou a rebater a energia solar, afirmando que o preço do painel solar padrão aumentou 30% em função dos subsídios concedidos pela Alemanha e Califórnia. “E não vejo perspectivas dos preços caírem e apenas países ricos poderão pagar por isso”, diz. Outra falácia em relação ao assunto, segundo Moore, é de que a capacidade instalada de uma usina eólica seja de 3MW. “As máquinas não funcionam o tempo todo, só quando está ventando. Estão aumentando o potencial de geração em três vezes de forma que o termo capacidade é equivocado”, provoca.

Veículos híbridos

Um consenso entre os palestrantes está na utilização de carros híbridos ativados por energia elétrica e uma grande expectativa em relação às ações do novo presidente dos Estados Unidos que anunciou que as questões ambientais estariam no topo de sua agenda. “Barack Obama tem meta de colocar milhão de carros híbridos nas ruas, que poderão ser alimentados à noite ou em momentos de menos consumo ao custo de US$ 1,00 equivalente a um galão de gasolina. Temos tecnologia para isso”. Segundo Brown, para incentivar os investimentos em energias renováveis, o governo de Obama vai propor o comércio de carbono e a realização de leilões de direitos de emissão.

Por Juliana Wilke – Gazeta Mercantil