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Florianópolis, 27 dezembro 2024
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Pandorgas coloriram o céu no sul da Ilha

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Elas já foram usadas para fins militares, experiências científicas, rituais religiosos, ou ainda como obra de arte, instrumento de pesca e diversão inocente. Independente da finalidade, as pandorgas sobrevivem ao tempo e continuam soltas ao vento, transportando sonhos de crianças e adultos. Na tarde desta segunda-feira (1º/11), elas vão enfeitar o céu no Pântano do Sul com novas cores e formas, marcando o lançamento do 1º Pantusuli – Festival de Pandorgas do Pântano do Sul, promovido pelo Instituto Ilhas do Brasil, com apoio da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC).

A programação inicia às 15h, no salão paroquial da Igreja São Pedro, com apresentação da peça “Ícaro no Pantusuli”, com o grupo teatral infantojuvenil Estrelas do Mar em Cena. Depois, as atividades continuam na praia, no “Encontro de Pandorgas e Pipas X Dragão do Lixo do Mar” – o dragão é uma pandorga de cinco metros, feita com objetos coletados na orla pelos alunos do projeto Estrelas do Mar. Mais que brinquedos voadores, as pandorgas do Festival Pantusuli serão mensageiras da esperança, carregando bilhetes escritos pelos participantes do evento, com mensagens sobre o meio ambiente, paz, família, amigos, cidade e mundo. Às 18h, acontece show da banda de Valdir Agostinho e Conspiração Mané.

O festival de pandorgas do Pântano do Sul homenageia o nome da tradicional colônia de pescadores no linguajar peculiar dos nativos, a maioria descendente de açorianos. A proposta dos organizadores é fomentar um evento anual para incrementar o turismo, incentivar talentos e unir as pessoas em atividades que estimulem práticas de sustentabilidade ambiental. “Essa é uma bela iniciativa que une cultura e meio ambiente para valorizar os vínculos comunitários e fomentar a produção artística local”, avalia a Superintendente Adjunta da FCFFC, Roseli Pereira.

Estrelas do Mar em Cena

Na oficina de teatro, os alunos do projeto Estrelas do Mar conheceram o mito de Ícaro – personagem da mitologia grega que ganhou do pai asas feitas de penas e cera, mas morreu ao voar alto demais. A partir dessa história, as crianças pesquisaram e redescobriram uma antiga tradição do Pântano do Sul. “Cada uma pegou a prancheta e conversou com vizinhos e parentes mais velhos, recuperando a memória da pesca de pandorga, que havia na região e hoje não é mais praticada”, explica Ana Maria Orlando, coordenadora da oficina de teatro e do festival.

Segundo a oficineira, o envolvimento dos jovens atores não ficou limitado apenas à apresentação teatral. Ao longo do ano, a garotada coletou o lixo que as pessoas jogaram na praia, reciclou o material e construiu as pandorgas para o festival sob coordenação do pandorgueiro, músico e artista plástico Valdir Agostinho.

Serviço:

O Quê: 1º Pantusuli – Festival de Pandorgas do Pântano do Sul

Quando: 1º de novembro
15h
– Apresentação da peça “Ícaro no Pantusuli”
15h30
– “Pipas e Pandorgas X Dragão do Lixo do Mar”
18h
– Show de Valdir Agostinho e Conspiração Mané

Onde: Salão Paroquial da Igreja São Pedro (espetáculo teatral)
Praia (encontro das pandorgas após a peça)

Quanto: Gratuito

Informações: http://www.ilhasdobrasil.org.br/
(48) 3238-9960

**Sobre o Projeto Estrelas do Mar

Criado em outubro de 2005, no Pântano do Sul, o Instituto Ilhas do Brasil atua junto a comunidades litorâneas para promover o protagonismo social e garantir práticas sustentáveis por meio de três ações específicas: Programa de Mobilização Comunitária; Programa de Adaptação às Mudanças Climáticas; e Programa de Ampliação de Atores Socioambientais e Conservação.Iniciado há cinco anos, dentro do Programa de Mobilização Comunitária, o projeto Estrelas do Mar atende a faixa etária de 8 a 12 anos com atividades de educação ambiental, teatro, idiomas, além de contar com uma brinquedoteca e uma pequena biblioteca. No projeto, a dramaturgia é utilizada como forma de reconhecer e valorizar a identidade cultural local, ao mesmo tempo em que dialoga com o mundo existente além dos limites da comunidade.

** Sobre a origem das Pandorgas

Muitas são as hipóteses sobre a origem da pandorga, considerada por vários estudiosos como o primeiro objeto voador construído pelas mãos humanas. Há relatos de que ela surgiu na China, no século 200 A.C, feita de bambu e seda, utilizada como meio de comunicação entre as tropas da dinastia Han. O artefato foi assimilado por outras culturas, passando de ferramenta de guerra a brincadeira que encanta crianças e adultos. Com novas formas, cores, funções, e nomes como pandorga, pipa, arraia, curica ou papagaio, o brinquedo voador é confeccionado em tecido, papel ou plástico e até mesmo com palha de palmeira.No Japão, o objeto era usado por monges budistas para afastar maus espíritos e garantir boas colheitas. Até hoje, na cultura oriental, a pandorga possui forte significado ritualístico, subindo aos céus para atrair boas energias sob forma de animais como dragões (prosperidade), tartaruga (longevidade) ou coruja (sabedoria). Levado para a Europa pelo navegador Marco Polo, a pandorga tornou-se brinquedo da nobreza. Além de inspirar artistas, escritores e músicos, também foi usada pela ciência, em 1752, nas pesquisas de Benjamin Franklin, que fez voar uma pipa durante uma trovoada para comprovar teorias sobre a eletricidade. Trazida pelos portugueses para o Brasil, segundo o folclorista e pesquisador Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), a pandorga despertou múltiplas possibilidades. Alguns estudiosos relatam que o objeto era usado no Quilombo dos Palmares para avisar sobre a presença dos caçadores de escravos. Com o tempo, as pandorgas se transformaram em passatempo predileto de crianças e adultos em todo o Brasil, adotando formas coloridas e diversificadas.Em Florianópolis, nas décadas de 1980 e 1990, havia um festival municipal que reunia a cada ano centenas de participantes, disputando prêmios e literalmente dando asas à imaginação. Porém, para alguns moradores das praias do município as pandorgas não eram apenas uma brincadeira. Para trazer mais peixes para casa, os pescadores utilizavam como instrumento de trabalho a “pandorga pescadora”, também conhecida como “feiticeira de espinhel” – um artefato voador que trazia diversos anzóis presos à linha. A estratégia era fazer a pandorga voar baixo quase tocando a água do mar, e algumas horas depois bastava puxar a linha para comprovar a fartura da pescaria.