Numa sala em pleno Centro de Florianópolis, Bárbara Otto, de 10 anos, se move com a desenvoltura típica de quem está à vontade no ambiente. Ela parece dar sinais de impaciência, mas é só a expectativa por mais uma aula de violoncelo. Bárbara faz parte dos quase 200 alunos de 10 a 18 anos que frequentam gratuitamente as aulas da Escola Sinfônica, projeto realizado na capital catarinense pela Orquestra Sinfônica de Santa Catarina (Ossca).
As aulas iniciaram em julho de 2024 e seguem até fevereiro de 2025. O encerramento acontece com um recital em março, que vai apresentar ao público o que os alunos aprenderam nas lições de violino, viola, violoncelo, contrabaixo acústico, flauta, clarinete, saxofone e percussão.
“Ninguém vai sair [do projeto] formado como músico”, alerta André Almeida, presidente da Ossca. Isso porque, oito meses de aula é um período muito curto para transformar a realidade desses alunos. Mas o desejo da Ossca com a Escola vai muito além de formar profissionais da música erudita
“O principal objetivo da escola é aproximar as crianças, os jovens e os adolescentes do universo da música sinfônica”, relata André. O projeto também está ajudando a aprimorar o talento daqueles que já tinham alguma experiência na área. Em última instância, a Orquestra visa democratizar o acesso ao universo musical. “A gente está plantando uma semente para ter futuros músicos, futuros artistas, talentos que estão sendo lapidados. Mas também estamos inserindo as famílias desses jovens no universo da música sinfônica e, através dessa aproximação, contribuindo para a formação de plateia”, pondera o presidente da Ossca.
Apoio da família
Carlos Alberto Otto é um desses familiares. Ele é pai da Bárbara e se mostra encantado com os resultados alcançados pela filha. Carlos revela que a menina está no espectro autista. Já foi uma criança não verbal, mas atualmente esbanja simpatia e desenvoltura nas conversas. Também já teve sérias restrições a barulhos e sons altos. Hoje tudo isso é passado na vida de Bárbara. Carlos Alberto procura acompanhar a menina em todas as aulas e sentencia: “vale o esforço”, ai de mim se não trouxer ela nas aulas, ela briga comigo”, se diverte.
Quem também não mede esforços para acompanhar a filha na Escola é Dalana Almeida de Castro. Ela sai de São José, na Grande Florianópolis, para levar a filha Débora Vitória Barreto de Castro, de 14 anos, para as aulas de flauta. Foi a mãe que ficou sabendo do edital e inscreveu a filha. “Ela já tocava um instrumento de sopro e eu queria que ela se aprimorasse”, conta. A família sempre foi muito ligada à música, principalmente por causa da igreja, onde Dalana canta e o marido toca diversos instrumentos. “A música clássica é uma cultura que hoje só está diminuindo, então, eu acho muito lindo o adolescente que tem interesse”, relata Dalana, descrevendo com emoção o “brilho nos olhos” que percebe na filha assistindo apresentações da Ossca.
Débora, filha de Dalana, não se intimida diante das aulas de flauta transversal, que ela considera fáceis em comparação com o clarinete, instrumento que já toca. Ela conta que conseguiu aprender bastante nas aulas, na relação com o professor e até com os colegas de classe.
Abner Melo Reis nasceu em Belém do Pará, mora em Palhoça, na Grande Florianópolis e, aos 17 anos, se esforça para aprender trompete. Ele é um dos adolescentes que encontrou na Escola Sinfônica uma chance de desenvolver seu talento e demonstrar seu amor pela música erudita, descrevendo a experiência como “maravilhosa”. A curiosidade, motor propulsor da juventude, levou Abner, que já toca teclado e violão, a se desafiar num novo instrumento. “Bora testar coisa nova”, foi o pensamento dele ao tomar conhecimento do edital de seleção da Escola.
Paixão dos professores
Para ensinar essas crianças e adolescentes ávidos por conhecimento, a Ossca conta com 20 professores. Alguns foram contratados pelo projeto Escola, mas a grande maioria já tocava na Ossca. É o caso de Cleber Cardoso Bittencourt, que dá aulas de trompete. Ele sempre teve prazer em lecionar, mas conta que levar música erudita para jovens “deixa tudo mais gostoso”. “Querer tocar um instrumento musical já é lindo, já é válido”, considera o professor, que deixa um recado para aqueles que pretendem fazer disso uma profissão: “se dedique, faça sempre o seu melhor, porque aí você sempre vai ter trabalho”.
Camila Durães Zerbinatti, professora de violoncelo, também já tocava na Orquestra e consolidou sua relação com a Ossca a partir do contrato com a Escola Sinfônica. “Desde que eu entrei no projeto eu tenho tocado em todos os concertos e em todos os programas, e isso me deixa muito feliz, porque isso é outra coisa super importante pra mim, poder tocar, eu amo muito tocar”, declara-se.
Toda essa paixão ela aplica nas aulas com seus jovens alunos. “Sou muito agradecida pela chance de estar tocando, e eu acho que isso também é importante para as crianças. Eu acho que favorece essa relação, essa referência para as crianças”, contextualiza Camila.
A professora elogia o empenho dos alunos e de suas famílias. Segundo ela, os estudantes da Escola se mostram interessados, engajados, curiosos, comprometidos e responsáveis. Ela exemplifica esse comprometimento relatando que muitos alunos conseguiram comprar seus instrumentos musicais, apesar das dificuldades. “É um esforço que eu reconheço como enorme por parte das famílias”, exalta. “Eu torço muito para o projeto continuar, porque está sendo maravilhoso. E eu acho que isso pode dar frutos incríveis”, prevê a professora.
Seguir com a Escola Sinfônica é o desejo e o desafio da Ossca para 2025. André Almeida relata que não é simples manter um projeto social, que oferece aulas gratuitas de música para crianças de escolas públicas, muitas vezes tendo que fornecer inclusive o instrumento. Mas as barreiras não desanimam os entusiastas. “Neste momento, o projeto irá se encerrar em março de 2025, o que não é o desejo da instituição, que está trabalhando, através de parceiros, projetos e demais possibilidades, para conseguir transformar essa realidade e fazer da Escola uma ação contínua”, finaliza o presidente. Quem deseja apoiar a Escola Sinfônica ou mesmo a Ossca de outras maneiras, deve entrar em contato com a instituição pelo Whatsapp (48) 99962-9088.
Por: Gisele Dias – Assessoria de imprensa Ossca
Crédito da foto: Cristina Gallo – Assessoria de imprensa Ossca