por William (Will) Monteath, escritor e CEO da Fox Human Capital, com sede em Florianópolis
A Ilha da Magia opera em seu próprio tempo, revelando seus encantos de maneira sutil. Embora seu feitiço possa demorar a manifestar-se, ele envolve de forma tão completa que, antes que perceba, você já estará “floripado”. Essa foi, ao menos, a minha experiência pessoal.
Após oito anos trabalhando em uma consultoria multinacional, entre Rio de Janeiro e Santiago do Chile, resolvi que tiraria meu ano sabático. Me sentia mal, estressado, com dificuldades para dormir, a ponto de precisar recorrer a remédios. Não acredito ter sido o primeiro nem o último a passar por isso.
Decidir tirar um ano sabático surgiu como a solução ideal. Meu desejo era me estabelecer em uma cidade litorânea, mais tranquila e acolhedora do que o Rio de Janeiro. A Praia da Pipa, no Rio Grande do Norte, inicialmente me atraiu com seu charme. No entanto, a preferência da minha esposa por viver em uma capital, visando maior acesso a serviços de saúde, nos levou a encontrar um meio-termo: Florianópolis. A capital catarinense, com suas praias encantadoras e dimensão mais acolhedora comparada ao Rio, não era um sonho preexistente para nós; a escolha foi movida por um consenso pragmático.
Sem muitas expectativas, mudamos para Floripa em 2015. Fomos parar em um condomínio no Campeche, com saída para a praia, pertinho da Ilha do Campeche (que só fomos visitar em 2023).
Esse período sabático revelou-se incrivelmente frutífero. Longe das obrigações profissionais, pude desengavetar projetos e explorar novas ideias. Junto à minha esposa, minha parceira de aventuras, criamos uma galeria de street art virtual e mergulhamos no mundo da cerveja artesanal. Nossas iniciativas, batizadas em homenagem aos nossos queridos gatos vira-latas, Galera Arte Viralata e Cerveja Viralata, não prosperaram como negócios, mas nos proporcionaram aprendizados valiosos.
Outra atividade, que para mim foi o grande “uauuuu”, foi ter me reconectado com algo que gostava de fazer durante a infância, seguindo a sugestão do livro Maestria de Robert Greene. O livro defende a ideia de que, na infância, somos desprovidos de quaisquer restrições ou limitações, e sugere que, para alcançarmos nossa verdadeira “maestria”, é essencial redescobrirmos a nossa criança interior. Foi ao reencontrar o “pequeno Will” que consegui reavivar minha paixão pela escrita.
A junção do Will criança, temperado pelos “ventos sules” da Ilha da Magia, formaram uma combinação explosiva. Desde lá, foram seis livros publicados. Deixo-os, em ordem, com seus respectivos links: Tulipas Azuis, O Headhunter que Caçava Sonhos, Te Apresento Meu Amigo, Foi lá em Copa, Contos antológicos para se ler em doses e Todos os caminhos levam à Praia de Pipa.
Há algo verdadeiramente magnífico nesta ilha, cuja essência não se revela imediatamente, mas sim através de uma transformação gradual e profunda. Tanto para mim quanto para minha esposa, a experiência de mudança foi sutil, porém significativa. Talvez tenha sido a conexão intensa com a natureza e suas praias infindáveis, talvez a música envolvente do Dazaranha tenha tocado nossos corações, ou ainda, talvez tenha sido a combinação desses elementos que ampliou nossa percepção de mundo. De uma perspectiva antes pragmática e mundana, passei a explorar e valorizar práticas como meditação, yoga, body talk, constelação familiar, e até mesmo a abordar o horóscopo com maior interesse e abertura.
Com o passar do tempo, a magia desta ilha manifestou-se de formas diversas, influenciando inclusive na criação da minha empresa de recrutamento e seleção, que se destacou no mercado local. Os dois maiores presentes da minha vida, minhas filhas Eva e Alexandra, vieram ao mundo aqui, tornando-se verdadeiras manezinhas da ilha e entusiastas do seu folclore rico, com histórias da Bernunça e do Boi de Mamão. Entendesse?
Após nossa temporada no Campeche, nos mudamos para a Lagoa, onde encontramos felicidade em família, vivenciando momentos tão simples quanto revolucionários, como colher frutas diretamente das árvores – uma realidade antes inimaginável para um garoto urbano. Foi contemplando a Lagoa, sentado em um de seus trapiches, que encontrei inspiração para escrever “Siris de sobremesa”, o primeiro conto que tem Florianópolis como cenário. Este conto integra a coletânea “Contos cósmicos contemplando o cotidiano contemporâneo”. O primeiro romance escrito em Floripa também acabou de estrear, é o “Olho da árvore”, que começa na Ilha e termina na Serra do Rio do Rastro. Tanto a coletânea de contos quanto o romance estão recém saídos do forno.
Meu amor por Florianópolis tem apenas crescido, atingindo seu ápice após uma visita inesquecível à Ilha do Campeche. A recepção calorosa por parte de golfinhos brincalhões e quatis curiosos, que se aproximavam na praia de forma sorrateira, aqueceu meu coração de uma maneira única. Me emociono quando escuto a música do Daza que vai falando sobre todos as praias. Me sinto como o “gringo enlouquecido, que dizem ter morrido, de amor, por Conceição”. Sou mesmo meio gringo. Será que sou eu?
Quando me perguntam como é morar eu Florianópolis, eu desconverso e falo que é meio frio, tem trânsito e venta muito. Tudo um boato egoístico para evitar superpopulacionar a ilha mais linda do mundo, que tomei a liberdade de chamar de minha. Afinal, “jamais a natureza, reuniu tanta beleza. Jamais algum poeta, teve tanto pra cantar!”