Apenas dois meses de preparação para uma viagem intensa de 2.8000km pedalando. Os seis participantes do projeto EcoAustral2010 percorreram o trecho entre Ushuaia, na Argentina, e Puerto Montt, no Chile, de bicicleta. O objetivo era promove-la como veículo de transporte sustentável e ecológico, e também incentivar o ecoturismo. Eles contaram com apoio da UFSC através do Núcleo de Educação Ambiental do Centro Tecnológico (CTC) da UFSC, Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) e da Associação dos Cicloviários da Grande Florianópolis. Como proposta da viagem, os estudantes organizaram uma exposição de fotos que acontece entre os dias 19 e 30 de abril, no espaço cultural da Biblioteca Universitária (BU). Além disso, realizarão palestra no dia 28 de abril, às 18h30, no auditório Elke Hering, também na BU.
Ao todo foram 40 dias de viagem – 10 a mais do que o programado – enfrentando vento, chuva e baixas temperaturas.
A ideia surgiu a partir de outra viagem, durante o projeto Travessia Pacífico-Atlântico. No ano passado, eles encontraram um grupo de chilenos cicloviajantes que defendiam o movimento Patagônia sem Represas – contra a criação de hidrelétricas na região -, e que programavam uma viagem em fevereiro começando no Chile e indo até a Argentina. Apesar da vontade de participar, a data não era ideal para os estudantes brasileiros. Por isso, decidiram fazer o caminho inverso, iniciando um mês mais cedo, para encontrar o grupo de chilenos no caminho.
80 km por dia
Maurício, Daniel, Leonardo, Rafael, Renan e Robson iniciaram a viagem no dia 27 de dezembro, saindo de Florianópolis de ônibus com destino a Ushuaia, percurso que durou 3 dias. De lá, reuniram as barracas, ferramentas, comida, bagagem pessoal, e partiram pedalando. Apesar de não serem especializadas, as bicicletas foram adaptadas para a travessia. Elas tinham suspensão, garupa, proteção no pneu e bagageiro. “Saímos daqui achando que as nossas bicicletas eram ótimas, até que começamos a ver a bicicleta dos outros viajantes”, conta Leonardo Sanches.
Eles pedalavam cerca de oito horas por dia, mantendo a média de 80 km percorridos. Nenhum dos estudantes é ciclista profissional, e para a maioria deles essa era a primeira viagem longa de bicicleta, por isso deveriam lidar também com o despreparo. A cada 30 km paravam para descansar, esperavam que todos se reagrupassem e redistribuíam a carga. “É legal depender dos outros e saber que dependem de você”, afirma Leonardo. Um dos ideais dos estudantes era que fossem privados de certos confortos: deveriam dormir em barracas e cozinhar.
Hospitalidade aos que chegam de bicicleta
Ao longo da viagem eles foram bem recepcionados, e contam que a hospitalidade da comunidade é maior quando os turistas chegam de bicicleta. Apesar dos habitantes da região estarem acostumados com o clicloturismo, algumas pessoas ficavam surpresas de encontrar brasileiros praticando essa modalidade. Em Villa Manihuales, no Chile, conheceram Jorge, que os ofereceu hospedagem gratuita. Ele era dono de uma pousada e não cobrava de viajantes de bicicleta. O local possuía 21 quartos, água quente e cozinha. Foi a noite mais confortável.
Paisagens deslumbrantes: fotos acervo dos viajantes
Um dos objetivos da viagem era conhecer os Parques Nacionais da Argentina e do Chile e visitar as unidades de preservação. Mauricio Faraon conta que apesar da organização e do cuidado, os parques ainda tem carência quanto a atividades relacionadas à bicicleta e acessibilidade com esse transporte, dando-se mais atenção ao rafting e escalada. Faz parte da cultura desses dois países o contato com a natureza, principalmente através do acampamento em família. Renan Leite salienta que a utilização dos parques com esse princípio valoriza e mantém a qualidade de vida.
Imprevistos
A rotina dependia da previsão do tempo. “A gente já esperava chuva, vento e frio”, explica Renan, “e quando tudo isso juntava, achávamos que não poderia piorar. Até que começou a chuva de granizo.” Mesmo em condições climáticas desfavoráveis, a equipe não parava. “Se fôssemos parar cada vez que chovia, demoraríamos demais”, diz Mauricio. Eles enfrentaram temperaturas entre 4º e 20º. Por causa do frio, eles acordavam às 9h, planejavam o trajeto do dia e saiam somente ao meio-dia, quando o sol estava a pino. Os estudantes pedalavam até o pôr-do-sol, que ocorria em torno de 22h30min. Algumas vezes, devido ao vento e à chuva, optavam por viajar de noite. “A gente teve que entender que a força da natureza é superior à nossa. A natureza é algo a ser respeitado, e devemos lutar pela preservação”, explica Mauricio.
A parte mais difícil para os cicloviajantes foi a Ilha da Terra do Fogo, divisão entre a Argentina e o Chile. O arquipélago Terra do Fogo tem superfície semelhante à Irlanda, e a região é marcada por grande instabilidade tectônica, com relatos de vulcanismo e terremoto. Depois de superado esse desafio, o restante da viagem tornou-se mais tranquila. “Quando saímos da Terra do Fogo, o sentimento era de ser mais forte”, afirma Leonardo.
As ciclovias de Santiago
Após a chegada em Puerto Montt, os estudantes seguiram de ônibus até Santiago para conversar com engenheiros do Ministério dos Transportes sobre o Plano Santiago de Bicicleta, que prevê a construção de 690 km de ciclovias pela capital chilena até 2012. Até agora a cidade já possui 130 km prontos. Eles conheceram Hector Olivo, engenheiro e assessor ambiental do governo regional, que explicou a origem do projeto em parceria com a ONG holandesa Interface for Cycling Expertise – ICE. Ela é especializada em consultoria para planejamento de transportes não motorizados, e é responsável pela implantação dos planos em 30 outras cidades espalhadas pelo mundo.
Em Florianópolis, a ICE foi recebida pela ONG catarinense Via-Ciclo, que promove o uso da bicicleta como meio de locomoção, lazer e esporte, e juntas pretendiam incluir a bicicleta e ciclovias no Plano Diretor Participativo da cidade. No último mês de março a Via-ciclo protocolou requisições ao poder público estadual para a instalação de bicicletário com 120 lugares. Hoje não há nenhuma vaga de estacionamento público para bicicetas. Outro requisito foi a construção de passagem provisória no canteiro de obras do Elevado da Seta, no Sul da ilha. A medida fez-se necessária após a divulgação de que em 2009 o número de passageiros que usam transporte coletivo diminuiu em 4%, migrando para automóveis e motocicletas e contribuindo para o caos no trânsito da capital.
A equipe chegou a Florianópolis no dia 28 de fevereiro, após viagem de ônibus a partir de Santiago. Apesar de todo esforço físico, eles não estavam cansados para o início das aulas no dia 1º de março. “Chegamos melhor do que saímos”, conta Leonardo.
O diário de viagem e mais fotos podem ser conferidos no Blog EcoAustral2010 : www.ecoaustral2010.wordpress.com
Mais informações com os participantes:
Mauricio Faraon – maufaraon@gmail.com
Daniel Ferreira – dan_fcf@yahoo.com.br
Leonardo Sanches – etsanches@hotmail.com
Rafael Dal Pont – rafaeldpp@gmail.com
Ranan Leite – razios182@gmail.com
Robson Ricardo – robsonkaya@gail.com
Núcleo de Educação Ambiental (NEAMB) – 3721-7746
Por Gabriella Bridi/bolsista de jornalismo da Agecom